Enteais – Os seres da Natureza

Os enteais são seres criados pela mesma Vontade criadora que deu origem ao ser humano. Alguns tipos de enteais, conhecidos como seres da Natureza ou elementais, já foram vistos por muitas pessoas.

Quando o raciocínio ainda não havia estabelecido seu reinado tirânico sobre a Terra, os seres humanos podiam ver esses prestimosos entes e se comunicar com eles, os quais muito colaboraram nos períodos iniciais do desenvolvimento humano. Mas depois que a sua vontade se voltou exclusivamente para a matéria, surgiu um abismo entre essas duas espécies da Criação, como decorrência natural da lei da adaptação, e a interação com os enteais se extinguiu. Os seres humanos ficaram então totalmente adaptados à matéria mais grosseira, nada mais podendo perceber das camadas mediana e fina dessa mesma matéria, onde vivem e atuam esses seres.

Sobre a atuação dos enteais associada aos elementos da natureza, diz Davi nos salmos: “Fazes a teus anjos ventos, e a teus ministros labaredas de fogo” (Sl104:4). No livro apócrifo de Jubileus, que é quase uma cópia do Gênesis, está dito que no primeiro dia da Criação o Senhor criou anjos do espírito do fogo, dos ventos, das nuvens, da neve, das vozes do trovão e do relâmpago, do frio e do calor. São os enteais que provocam efeitos meteorológicos segundo as leis estabelecidas pelo Criador para a matéria grosseira, portanto em conformidade com Suas ordens: “Ele ordenou às nuvens do céu e abriu as portas do céu; (…) fez soprar no céu o vento leste e com seu poder trouxe o vento sul” (Sl78:23,26).

A Bíblia também diz no Gênesis que “naquele tempo havia gigantes na Terra” (Gn6:4), indicando assim que uma classe especial de enteais, os gigantes, eram normalmente visíveis e reconhecíveis pelos seres humanos naquelas eras longínquas. Sobre o tamanho desses gigantes, em comparação com os seres humanos, é digno de nota o relato dos homens enviados por Moisés a espiar a terra de Canaã: “Lá vimos até gigantes, os descendentes de Enac, da raça dos gigantes. Comparados com eles parecíamos gafanhotos, e era assim que eles nos viam” (Nm13:33).(1) Fílon de Alexandria, filósofo do século I da nossa era, afirmava que esses gigantes não eram nenhum mito. A comprovação estritamente bíblica de que esses gigantes não eram seres humanos é dada por esses próprios textos citados, pois o grande dilúvio, que segundo se supõe tudo submergiu e toda vida extinguiu, ocorreu entre essas duas citações, e não há registro de nenhuma estadia dos gigantes na arca de Noé. Pela cronologia bíblica, os animais da arca, a família de Noé e os citados gigantes sobreviveram ao dilúvio. Como os gigantes são mencionados antes e depois do dilúvio e não estavam na arca, então não eram animais nem seres humanos. De qualquer forma, o dilúvio atingiu uma determinada região, e não toda a Terra. Sobre isso, diz Roselis von Sass em O Livro do Juízo Final:

“Que o dilúvio inundou vários países daquela região é hoje uma realidade histórica. Pois quando o arqueólogo inglês Leonard Wooley escavou túmulos de reis em Ur, na Caldéia, descobriu por baixo deles, numa profundidade de doze metros, uma camada limpa, de argila, de dois metros e meio de espessura. Essa camada aluvial só podia ter uma explicação: A catástrofe diluvial, mencionada primeiramente no “Epos Gilgamesch” e depois na Bíblia, tinha inundado de fato toda a região que hoje é conhecida como “região dos dois rios” (Eufrates e Tigre), situados na Mesopotâmia. Contudo, nunca toda a Terra. Tal nem teria sido possível segundo as vigentes leis da natureza…”

O livro deuterocanônico de Judite fala igualmente de “gigantes enormes” e “filhos de Titãs” (cf. Jt16:6). Esses Titãs são os que a Bíblia chama de “heróis renomados dos tempos antigos” (Gn6:4), contudo nunca se uniram a mulheres terrenas e nem tiveram filhos com elas, como a Bíblia afirma nesse mesmo versículo. Essas estórias fantásticas de deuses se amancebando com mulheres humanas são meras deturpações, como por exemplo a lenda de que Hércules seria filho de Zeus com uma mulher terrena, Alcmena.

Ainda no Gênesis, vemos que o Criador colocou querubins brandindo uma espada de fogo, como guardiões da árvore da vida (cf. Gn3:24). Na narrativa bíblica, esses querubins foram criados antes dos seres humanos, estando submetidos incondicionalmente à Vontade do Onipotente. Essa imagem representa os enteais primordialmente criados, “sobre os quais o Senhor está sentado” (cf. Sl99:1). Foi a eles também que a serpente se referiu em sua conversa com Adão e Eva, quando quis seduzi-los com a promessa de que se comessem do fruto proibido “se tornariam como deuses” (cf. Gn3:5). “Deuses” que já existiam antes do surgimento do casal humano portanto...

Antigos relatos egípcios sobre a origem do mundo apresentam vários paralelos com a história da Criação descrita no Gênesis, invariavelmente fazendo referência à existência dos enteais. Essas narrativas descrevem não apenas a criação do mundo, mas também de numerosos deuses que personificam a natureza. Narra-se aí, por exemplo, que os deuses certa vez purificaram a Terra por meio de um grande dilúvio, depois que o homem pecara pelo seu livre-arbítrio… O Épico de Atrakhasis diz que em certa época a humanidade começou a fazer tanto ruído, que os deuses enviaram um dilúvio para silenciar de vez os perturbadores seres humanos... O mais conhecido relato extra bíblico do dilúvio, o Épico de Gilgamesh ou Epos Gilgamesch, no qual o relato do Gênesis se baseou, também fala que isso aconteceu pela atuação dos deuses. Lemos ali que “o deus do mundo subterrâneo rompe os esteios da barragem e o deus guerreiro lidera a enchente das águas.”

A quantidade de espécies que compõem os povos enteais é enorme. São enteais, por exemplo, os seres que constituem os conhecidos “exércitos celestes” do Senhor, desde o início dos tempos. Quando a Criação foi concluída, diz o Gênesis que “o céu, a Terra e todos os seus elementos foram terminados” (Gn2:1). No original hebraico, a palavra “elementos” é literalmente exércitos, indicando as legiões de seres da entealidade que povoam a imensa obra da Criação. O Filho do Homem, a Vontade de Deus, é comumente designado nos livros bíblicos de Senhor dos Exércitos. No Apocalipse está dito que “os exércitos do céu o seguiam [o Filho do Homem] em cavalos brancos” (Ap19:14). E desse tipo de entes há um tal número que nem se pode imaginar: “Suas legiões, alguém pode contá-las? Eles fazem parte do exército do céu que não pode ser enumerado” (Jr33:22). Parte desse exército inumerável também se encontra a serviço do Filho do Homem, conforme descreve Daniel: “Mil milhares o serviam; dez mil miríades estavam diante dele” (Dn7:10).

Um épico mesopotâmico chamado Enuma Elish, gravado em tábuas datadas de 2500 a.C., o qual novamente traz muitas semelhanças com o registro bíblico da Criação, acrescenta o relato de um conflito cósmico ocorrido entre as divindades celestes. A Bíblia também alude à ocorrência de uma “batalha no céu”, em que o “dragão lutou com seus anjos” (cf. Ap12:7), os quais “foram presos em cadeias eternas, debaixo das trevas” (cf. Jd6). O dragão com seus anjos representa Lúcifer e seus servos, que realmente lutaram com os enteais há muito tempo, numa região específica. A escritora Roselis von Sass dá detalhes dessa luta titânica em sua obra O Livro do Juízo Final, nos tópicos “A luta contra os invasores” e “Os campos phlegraicos”.

No Saltério, esses enteais são igualmente chamados de exército dos céus, que também foram criados pelo sopro da boca do Senhor: “Pela Sua Palavra, o Senhor fez os céus, e todo o exército deles, com o sopro de Sua boca” (Sl33:6). Os enteais, portanto, são criaturas originadas da mesma Palavra criadora de Deus, tal como os seres humanos, porém são seres de uma espécie diferente. De qualquer forma, já fora estabelecido que toda a Criação deveria servir unicamente ao seu Criador: “Sirva a Ti toda a Criação, porque disseste e os seres existiram” (Jt16:14). Os povos enteais sempre cumpriram essa determinação, mas os povos humanos não.

O rei Davi, que chamava os enteais de “ministros do Senhor”, afirmava que todos eles cumpriam a Vontade de Deus: “Bendizei o Senhor, vós todos os seus exércitos, vós, Seus ministros, que cumpris Sua Vontade” (Sl103:21). Por sua vez, o rei Salomão assegura que, tal como seu pai Davi, o Senhor também lhe havia dado o conhecimento a respeito dos seres da natureza: “Ele me deu um conhecimento infalível dos seres para entender a estrutura do mundo, a atividade dos elementos” (Sb7:17).

Sobre Salomão, o Corão diz na 34ª surata – Sabá: “E djins trabalhavam para ele com a permissão de seu Senhor.” A 72ª surata do Corão tem o título de “Os djins” e fala justamente desses seres. Em épocas remotas, os enteais eram conhecidos pelo nome de “dschins” ou “dschedjins”. Roselis von Sass narra vários episódios envolvendo dschedjins em seu instigante livro A Grande Pirâmide Revela Seu Segredo.

Um outro tipo de enteais, também muito conhecido na Antiguidade, são os que cuidam das crianças boas até o despertar do espírito. Reminiscências desse saber perdido sobrevivem nos quadros e temas que mostram anjos da guarda junto ao berço dos bebês (muito comuns no século XVII), assim como também neste salmo: “Ele ordenou aos seus anjos que te guardem em teus caminhos todos. Eles te levarão em suas mãos, para que teus pés não tropecem numa pedra” (Sl91:11,12). No século V a.C., Platão já falava da existência desses anjos da guarda, e muito tempo depois, no século IV d.C., o famoso São Jerônimo afirmava que esses anjos eram dados aos seres humanos quando de seu nascimento. Estes seres não são anjos, mas sim guardiões das crianças boas durante alguns anos. Para cada faixa de idade há um enteal específico, tanto para meninas como para meninos. (2)

Nos antigos escritos apocalípticos judaicos, observa-se que cada nação tinha uma espécie de patrono angélico, que vigiava sobre ela e a representava. Isso também é reminiscência de um saber perdido sobre os enteais, pois cada país tinha, de fato, um regente enteálico responsável por sua proteção. O regente protetor do Brasil chamava-se Tupan-an, e os habitantes de nossa terra naquelas eras longínquas chamavam-na de “o país de Tupan-an”. (3)

Os antigos judeus também possuíam um saber sobre os enteais e sua atuação. Prova disso é um ramo remanescente do judaísmo que se apoia num livro chamado Zohar (Livro do Esplendor), do século XIII. Esse grupo assevera que os elementos fogo, ar, terra e água são habitados por seres especialmente incumbidos disso, denominados “elementais”, assim designados: os que habitam o fogo se chamam salamandras; os que habitam o ar são os silfos; os que habitam a água são ditos ninfas ou ondinas; os que habitam a terra se chamam gnomos ou pigmeus. É realmente uma alegria inesperada constatar que o conhecimento a respeito dos enteais, ainda que precário, conseguiu sobreviver aqui e ali até os dias de hoje.

O também hebreu Livro de Enoch, que se acredita ter sido escrito no século II a.C., traz um trecho referente aos enteais (igualmente chamados ali de anjos) na parte denominada Visão de Enoch:

“Então vi sete coros de anjos luminosos e magníficos, com rostos resplandecentes como o Sol. Eles não se distinguem nem pela face, nem pela grandeza, nem pelo modo de se vestir. Cuidam da ordem do mundo e do curso das estrelas, do Sol e da Lua. Os anjos, esses magníficos anjos, harmonizam toda a vida celeste; cuidam dos mandamentos, das doutrinas, da harmonia, do canto e de todos os louvores. Alguns desses anjos têm poder sobre o tempo e sobre os anos, outros sobre os rios e sobre os mares, outros sobre os frutos… outros, enfim, cuidam da vida de todos os homens, e a descrevem diante da face do Senhor.”

A atuação dos enteais é de fato muito ampla, literalmente essencial para a vida humana. Vivemos no mundo deles. Sem a sua atuação não existiriam alimentos, água, ar. Não existiria nem mesmo o nosso planeta. Tudo quanto nos é visível e palpável aqui na Terra já foi moldado por eles antes na matéria mais fina. Assim, tudo o que vemos provém realmente de modelos que não podemos ver: “Sabemos que o mundo foi organizado pela Palavra de Deus, de modo que o que se vê provém de coisas não visíveis” (Hb11:3). Em sua obra Timeu, Platão diz que cada uma das criações cósmicas do Artesão é uma cópia de um modelo perfeito previamente existente no mundo espiritual. O que acontece aí é que os enteais, servos leais do Onipotente, moldam primeiramente no mundo não visível mais próximo de nós (matéria grosseira mediana e não mundo espiritual) tudo aquilo que depois se tornará reconhecível aos seres humanos na Terra de matéria grosseira. O autor de Eclesiástico já dizia em relação à ação do Criador que “só vemos um pequeno número de Suas obras” (Eclo43:36).

Os povos antigos, particularmente os romanos, germanos e gregos tinham exato conhecimento dos seres da natureza e de sua atuação. Sobre isso, é bastante revelador esse trecho da obra Memoráveis, do filósofo grego Xenofonte (430? – 355 a.C.), exaltando a providência e benevolência dos deuses, como os gregos denominavam os grandes enteais: “Sendo nós necessitados de alimento e devendo produzi-lo da terra, eles [os deuses] nos dão para isso as estações convenientes, que nos fornecem muitas coisas que servem às nossas necessidades, mas também daquelas que servem à nossa alegria.”

Os gregos sabiam até da existência dos enteais de dupla forma. Ainda hoje se fala que nas planícies gregas da Tessália viviam centauros, seres metade homem e metade cavalo… As mais antigas representações de centauros foram encontradas não muito longe dessa região, em escavações na cidade cipriota de Fumagusta. Um resquício bíblico muito tênue e deturpado desse gênero de enteal aparece no Livro de Isaías, com a menção aos sátiros (cf. Is13:21; 34:12,14), tidos hoje como seres mitológicos pagãos, habitantes das floretas, com chifres e pernas de bode. O termo hebraico original é sa’ir, que significa literalmente “peludos” ou “hirsutos”. Na Septuaginta grega a palavra foi traduzida como “coisas sem sentido”, e na Vulgata latina como “demônios”... Em algumas Bíblias atuais esses seres são designados de “cabritos selvagens”, “demônios caprinos” e “ono-centauros”.

Os povos mais antigos tinham um conhecimento muito preciso dos enteais e de seus grandes regentes. Sabiam que estes últimos habitavam um mundo superior, uma espécie de castelo com as dimensões de nosso planeta, conhecido pelos gregos como Olimpo e pelos germanos como Asgard ou Valhala. Esses regentes realmente não tinham morada entre os homens, conforme os caldeus informaram acertadamente ao rei Nabucodonosor, que os havia intimado a interpretar um sonho que tivera: “A questão posta pelo rei é difícil, e ninguém poderá dar ao rei a solução, exceto os deuses, que não têm morada entre os mortais” (Dn2:11).

Os pesquisadores descobriram que os grandes enteais, os regentes que aparecem como protagonistas nas mitologias dos povos antigos, eram sempre os mesmos, mudando apenas a denominação. Muitos desses relatos mitológicos comportam fragmentos de eventos reais, tanto em relação aos enteais como a personalidades humanas. É o caso, por exemplo, do conhecido mito grego da estória de amor entre Píramo e Tisbe. Pyramon e Thisbe existiram realmente, e desempenharam um papel crucial na época da construção da Grande Pirâmide do Egito. (4)

Os chamados deuses sempre foram fonte de admiração para os seres humanos, desde o princípio. Era na presença dos admirados deuses que o sábio rei Davi queria louvar o Senhor: “Eu te louvarei, Senhor, de todo o meu coração; na presença dos deuses a ti cantarei louvores” (Sl138:1); e ainda os exortou a honrar o mesmo Senhor: “Dai ao Senhor, vós deuses, dai ao Senhor glória e força” (Sl29:1). Os outros salmistas também sabiam que nenhum dos deuses se Lhe podiam comparar: “Ninguém é como Tu entre os deuses, Senhor!” (Sl86:8); “Quem, nos céus, poderá comparar-se ao Senhor? Quem, entre os deuses, se Lhe poderá igualar?” (Sl89:9); “Sim, eu o sei: o Senhor é grande; nosso Senhor ultrapassa todos os deuses” (Sl135:5); “Louvai o Deus dos deuses” (Sl136:2). Moisés e os antigos hebreus também sabiam que nenhum desses deuses poderiam comparar-se ao Senhor do Universo: “Quem entre os deuses é como Tu, Senhor?” (Ex15:11). Até o cruel rei Nabucodonosor sabia que o Criador era o Deus dos deuses: “Vosso Deus é o Deus dos deuses, e o Senhor dos reis” (Dn2:47). Quanto a isso, o rei estava mesmo certo, pois de fato “o Senhor é maior que todos os deuses” (Ex18:11); o Todo-Poderoso Criador será sempre “Deus dos deuses e Senhor dos senhores” (Dt10:17).

O apóstolo Paulo também não desconhecia a existência dos enteais, pois na sua descrição aos Colossences sobre a criação de todas as coisas, afirma que foram criados “no céu e na Terra seres visíveis e invisíveis” (cf. Cl1:16). Sabemos que Paulo não apenas escreveu cartas aos Coríntios gregos, mas que esteve pessoalmente na cidade portuária deles, Corinto, capital da província romana de Acaia, onde fundou uma colônia cristã por ocasião de uma de suas viagens missionárias (cf. At18). Durante sua estada ali o apóstolo deve ter se inteirado da profunda devoção dos gregos aos grandes enteais, pois na entrada principal da cidade havia um templo de Apolo cujas ruínas ainda subsistem, e ao lado da muralha exista um templo de Asklepios, o deus da cura. Na cidade de Pérgamo, antiga capital de um Estado helênico, também existia um templo em honra a Asklepios. Outra prova de que Paulo sabia muito bem da existência dos enteais foi a sua citação, diante dos gregos no Areópago, de uma frase do grandioso hino a Zeus do poeta estoico Aratus de Soli, do século III a.C.: “Também nós somos a sua linhagem” (At17:28).

A devoção dos gregos e outros povos antigos aos enteais era legítima, porque viva. Eles ainda podiam ver os enteais e por isso sabiam da existência deles. Há uma antiga tradição grega segundo a qual “as primeiras pessoas, na idade áurea, viviam livres do mal e das aflições, desfrutando a comunhão com os deuses.” O poeta épico grego Homero (séc. VIII a.C.) assim se referiu à grande enteal feminina Gäa (Gaia), responsável pelo planeta Terra:

“É a terra que cantarei, Mãe Universal de sólido pisar, antepassada venerável que alimenta em seu solo tudo que existe... É a ti que corresponde dar vida aos mortais, assim como tirá-la... Ditoso é aquele a quem honras com tua benevolência! Para ele, os campos da vida estão carregados de colheitas; nos campos, seus rebanhos prosperam e sua casa se enche de riquezas.”

Sabendo desse amor dos gregos pelos enteais, Paulo apenas cuidou de evidenciar a diferença entre os deuses por eles amados e o Deus único: “Se bem que existam aqueles que são chamados deuses, quer no céu, quer na Terra – e há, de fato, muitos deuses e muitos senhores – para nós, contudo, existe um só Deus, o Pai, de Quem tudo procede” (1Co8:5,6). Em sua carta aos Gálatas, Paulo explica acertadamente que os seres da natureza não são propriamente deuses, conforme se imaginava: “Outrora, quando não conhecíeis a Deus, servistes a seres que na realidade não são deuses” (Gl4:8).

Durante muito tempo, no antigo Israel, acreditou-se na existência e no poder de deuses estrangeiros. Por isso, muitas outras passagens bíblicas poderiam trazer informações reveladoras sobre os enteais, se não tivessem sido submetidas a intensa censura. Conforme esclarece Roselis von Sass em O Livro do Juízo Final, “os perscrutadores da religião cristã, ao comporem os textos da Bíblia, excluíram todas as indicações referentes aos conscientes entes da natureza… ‘pois somente os pagãos acreditariam nessas coisas’…”. Podemos ter uma vaga ideia do que perdemos ao contemplarmos esse trecho extraordinário de um diálogo entre dois amigos, registrado num documento dos tempos bíblicos conhecido hoje como Teodicidade Babilônica:

“A menos que você busque a Vontade de Deus, que esperança você pode ter? Quem serve a Deus com fidelidade nunca tem falta de comida, mesmo quando é difícil consegui-la. Portanto, busque o respirar calmante dos deuses e as perdas desse ano logo serão restauradas. (…) A mente dos deuses é como o centro dos céus, muito afastado de nós. É difícil obter seu conhecimento, vai além da compreensão humana.”

Durante o longo tempo de sedimentação do cânon bíblico, algumas poucas, pouquíssimas pessoas mais esclarecidas, ainda procuraram manter aceso o saber sobre os enteais entre os seres humanos, como por exemplo o médico, filósofo, naturalista, profeta e pregador bíblico Paracelso (1493 – 1541). Paracelso, um suíço que quando jovem estudou numa escola beneditina, acreditava que “o homem está cercado por uma multidão de seres misteriosos e leves, no mais das vezes invisíveis, que cruzam incessantemente a rota de sua vida”. De Paracelso são também essas palavras: “Deus povoou os quatro elementos com criaturas vivas. Criou as ninfas, as náiades, as melusinas, as sereias para povoar as águas; os gnomos, os silfos, os espíritos das montanhas e os anões para habitar as profundezas da terra, as salamandras que vivem no fogo. Tudo provém de Deus. Todos os corpos são animados por um espírito astral do qual dependem sua forma, sua figura e sua cor.” Esse elucidativo testemunho de Paracelso é algo muito raro mesmo, ainda mais por ter surgido na tenebrosa Idade Média.

Como dito, os historiadores de hoje ficam perplexos ao constatar que os deuses venerados nas inúmeras culturas de tempos antigos eram, na verdade, sempre os mesmos. Ficam intrigados com esse fato e supõem ter existido uma fonte religiosa comum, de onde teriam derivado todas as crenças em divindades, sem considerar a hipótese de que os grandes enteais eram, de fato, vistos por todos aqueles povos antigos, situados tão distantes uns dos outros, no tempo e no espaço, e que por conseguinte as descrições que faziam deles tinham necessariamente de ser semelhantes entre si. O pesquisador J. Garnier escreveu: “Não apenas os egípcios, os caldeus, os fenícios, os gregos e os romanos, mas também os hindus, os budistas chineses e tibetanos, os godos, os anglo-saxões, os druidas, os mexicanos, os peruanos, os aborígenes e até mesmo os selvagens dos mares do sul, devem todos ter derivado suas ideias religiosas de uma fonte comum e de um centro comum. Em toda parte deparamo-nos com as mais surpreendentes coincidências nos rituais, nas cerimônias, nos costumes, nas tradições, e nos nomes e nas relações de seus respectivos deuses e deusas.”

O fato, porém, é que na época em que Jesus chegou à Terra o conhecimento a respeito dos seres da natureza já estava praticamente extinto na humanidade, sobrevivendo apenas em alguns grupos ainda mais estreitamente ligados à natureza, designados pejorativamente de “pagãos” e “gentios” pelo povo eleito do Antigo Testamento. A indicação mais clara de que, há dois mil anos, a humanidade já se encontrava completamente apartada da natureza e de suas leis, é a insistência em sacrifícios e holocaustos de animais, que tisnam várias partes do Antigo Testamento. Esses crimes abomináveis contra a natureza, que horrorizavam os enteais, eram tidos naquela época como agradáveis ao Todo-Poderoso Criador…

Posteriormente, quando da expansão do Cristianismo no Ocidente, o total desconhecimento dos primeiros evangelizadores europeus sobre os enteais os levaram a cometer verdadeiros crimes contra os poucos povos ainda ligados à natureza, a pretexto de salvar suas almas. O missionário beneditino Bonifácio (675 – 754), por exemplo, provocou verdadeira devastação em terras germânicas durante sua missão evangelizadora de levar a “verdadeira fé” aos pagãos. Por volta do ano 730, esse Bonifácio – posteriormente elevado a santo– simplesmente pôs abaixo o imponente Carvalho Sagrado ou Carvalho de Thor dos saxões da região de Geismar, tendo o cuidado de utilizar a madeira sagrada para construir, no mesmo local, um oratório a São Pedro. Logo em seguida, este que viria a ser o “Apóstolo da Germânia” escreveu para a Inglaterra pedindo mais “esplêndidas cópias da Bíblia, escritas em letras de ouro, para que a referência às Sagradas Escrituras seja impressa nas mentes carnais dos gentios.” O leitor pode bem imaginar como esses gentios encararam sua conversão forçada… O historiador Peter Brown diz que “num percurso de 30 anos, Bonifácio deixou sua marca por toda a Germânia ocidental, desde a Baviera até o ponto de encontro das bacias hidrográficas do Lahn e do Weser.” Podemos presumir o alcance dessa marca pelas palavras do papa da época: “Bonifácio foi enviado para iluminar o povo germânico que ainda vive nas sombras da morte, mergulhado no erro.”

O “exemplo” evangelizador da atuação missionária de Bonifácio foi religiosamente seguido na colonização da América e da África. Sobre isso, quero citar só duas declarações, bem amargas, de líderes de povos colonizados:

Especificamente em relação à colonização dos Incas o crime foi tanto maior, visto esse povo ter sido o último na Terra ainda ligado à Luz. Roselis von Sass descreve magistralmente a história da vida desse povo extraordinário, e a criminosa conquista levada a efeito pelos espanhóis, em sua obra A Verdade Sobre os Incas.

Gostaria apenas de acrescentar aqui três registros conservados da época da pilhagem espiritual e terrena do povo Inca. O primeiro é a interpelação feita aos Incas pelo pregador espanhol Avendaño: “Dizei-me agora, meus filhos, de todos esses homens que nasceram nesta terra antes que os espanhóis pregassem o santo Evangelho, quantos se salvaram? Quantos? Quantos foram para o céu? Nenhum! Quantos Incas foram para o inferno? Todos!” O segundo registro é a opinião do espanhol Cieza de Leon, que percorreu o Peru entre os anos de 1540 a 1550: “Deus quis que essas pessoas ouvissem o santo Evangelho e que seus templos fossem destruídos.” O terceiro registro é a resposta de um Inca sobre o conceito que eles tinham de Deus, mencionada pelo historiador Ivar Lissner: “Vós credes em um Deus que foi morto pelos homens por Ele criado, mas o meu Deus vive e está nos céus, contemplando as Suas criaturas.”

Os Incas eram muito mais desenvolvidos espiritualmente do que seus obliterados colonizadores, assim como também o eram muitos silvícolas nos tempos das grandes descobertas marítimas. Mas, justamente por causa do retrocesso anímico em curso no mundo, essa situação não pôde ser reconhecida por quem detinha na época o poder da força. Os eruditos do tempo de Colombo, por exemplo, não conseguiram encontrar nenhuma justificativa bíblica para a existência de seres humanos habitando o Novo Mundo. Como estes não podiam ser encaixados na lista de descendente dos três filhos de Noé: Sem, Cam e Jafé (cf. Gn10:1), e como não existia um quarto filho de Noé que servisse de fonte para uma quarta raça, concluíram que aquela gente não pertencia à raça humana... Essa sentença deu origem a um intenso debate na Europa entre os defensores e os detratores dos povos indígenas da América. Os últimos apresentaram argumentos convincentes para indicar que aquele povo de pele cor de cobre, que se expressava numa linguagem ininteligível, não possuía nenhuma alma, e por conseguinte não era merecedor da redenção de Cristo. Os ânimos só foram serenar em 1537, quando o papa Paulo III emitiu uma bula declarando que “os índios são verdadeiros seres humanos e capazes de compreender a fé católica”.

Para encerrar, cito aqui um trecho da dissertação Os Planos Espírito-Primordiais IV, no terceiro volume da Mensagem do Graal de Abdruschin:

“Numa coisa tem o ser humano terreno que atentar especialmente, visto ter pecado muito a tal respeito: a ligação com os auxiliares enteais jamais deve ser interrompida! Caso contrário abris uma grande lacuna que vos prejudica.

Não deveis encarar como deuses os grandes e fortes enteais, pois não são deuses, mas sim servos fiéis do Todo-Poderoso, e no servir são grandes! Mas nunca estão sujeitos a vós.

Aos pequenos enteais, porém, nunca deveis olhar presunçosamente com superioridade, pois eles não são vossos servos, mas sim, como os grandes, servem unicamente a Deus, ao Criador. Somente em sua atividade se aproximam de vós; vós, porém, deveis aproximar-vos deles.

Podeis aprender muito com eles, especialmente no seu fiel servir, que eles dedicam, agradecidos, ao seu Criador. Vós, seres humanos, necessitais incondicionalmente dos grandes e pequenos auxiliares, pois somente numa atividade conjunta e harmoniosa com eles as vossas almas podem amadurecer direito e chegar à ascensão.

Aprendei por isso a dar atenção a todos os auxiliares enteais, pois eles podem ser os vossos melhores e mais fiéis amigos!”

  1. A respeito da atuação dos enteais, tanto dos pequenos seres da natureza como dos grandes regentes, ver as obras “O Livro do Juízo Final” e “O Nascimento da Terra”, de Roselis von Sass, ambas publicadas pela Ordem do Graal na Terra.

    Sobre a atuação dos gigantes, particularmente do gigante Enak, o leitor encontrará um quadro vivo na obra “A Grande Pirâmide Revela Seu Segredo”, da mesma autora. Voltar

  2. Sobre esse assunto, gostaria de indicar um livrinho maravilhoso intitulado “Quem protege as crianças?”, publicado pela Ordem do Graal na Terra. Voltar

  3. Ver, a respeito, o livro “Revelações Inéditas da História do Brasil”, de Roselis von Sass. Voltar

  4. Indico novamente a obra “A Grande Pirâmide Revela Seu Segredo”, de Roselis von Sass. Voltar