Parte 2 – A Efetivação

As Tragédias Humanas

Poluição

“Quando o mundo foi entregue ao homem, era um jardim. O homem transformou-o em um sarçal cheio de veneno. Nada serve agora para purificar a casa do homem. É necessária uma ação mais profunda, que só pode vir do céu.”

(Padre Pio)

A Terra não nos pertence. Viemos para cá, pela primeira vez, há muitos milhares de anos, para que através de vivências, que a vida na matéria proporciona, atingíssemos um tal nível de desenvolvimento espiritual que nos possibilitasse o retorno ao Paraíso, como personalidades plenamente conscientes. Este é o nosso caminho normal de desenvolvimento, previsto na Criação.

Enquanto estivermos no âmbito da Terra, seja na matéria visível ou no assim chamado além, não estamos ainda em nossa verdadeira Pátria, nossa morada definitiva, que, para nós, seres espirituais, só pode ser um plano espiritual, o qual é denominado de Paraíso. Enquanto estivermos no âmbito da matéria, não passamos de hóspedes aqui na Terra.

O maravilhoso planeta Terra foi formado pelos servos enteais (1) do Criador. Com amor eles construíram um planeta que trazia todas as condições para o desenvolvimento dos espíritos humanos encarnados: a composição do ar puro, a diversidade da flora e da fauna, a regularidade das chuvas e estações do ano – as quais dão, para cada região e época do ano, exatamente aquilo que os corpos dos animais e dos seres humanos necessitam naquele momento e local –, a massa de água dos oceanos na sua função reguladora do clima, os grandes e pequenos rios que possibilitam o surgimento da vida nas mais inóspitas regiões… Enfim, tudo elaborado com o máximo cuidado para que nada, absolutamente nada faltasse ao ilustre hóspede que chegava nessa grande casa terrena: o ser humano.

Os primeiros seres humanos, criaturas puramente intuitivas, ficavam espantados com toda a beleza e fartura ao seu redor, admirados de lhes ser permitido viver num lugar assim tão belo. A vida nos tempos primordiais era um hino de gratidão contínuo para com Aquele que lhes havia presenteado tão ricamente com a vida. Eles amavam e respeitavam a natureza, considerando-se simples criaturas, como tantas outras que também tinham permissão e direito de viver num mundo assim maravilhoso.

Este sentimento para com o planeta que viviam era certo, e não precisava nem devia ter mudado. Se o ser humano não tivesse preferido seguir seus próprios falsos caminhos, desprezando os que foram preconizados por seu Criador, ainda hoje respeitaria sua morada terrena, comportando-se como um hóspede benquisto.

Infelizmente, como em tantas coisas mais, o ser humano pecou aqui da forma mais vil. Ao invés de com suas capacitações ajudar a conservar a casa limpa, da qual nunca foi nem jamais será dono, ele destruiu as matas, sujou rios e mares, conspurcou o ar e envenenou o solo. E agora se surpreende quando a natureza, através de catástrofes, retribui a sua ação destrutiva, eliminando de uma vez por todas esse bicho-homem tão nocivo, uma espécie incapaz de conviver com outras e de cuidar de sua própria morada.

Do ponto de vista da natureza o ser humano nada mais é do que uma estranha criatura, que por vontade própria se transformou num monstro, numa aberração, e que por isso precisa ser eliminado para o bem de todos os outros seres, que igualmente têm o direito de viver em paz na Terra.

O extraordinário crescimento do movimento ambientalista-ecológico nas últimas décadas, assim como as tentativas de se voltar a uma vida natural, são também efeitos do Juízo Final. O Juízo traz movimento a tudo que estava parado ou que se movia lentamente, sejam acontecimentos da natureza ou vivências gravadas na alma.

Assim é que muitas pessoas têm a nítida sensação de que precisam mudar rapidamente a sua maneira de viver e seu modo de atuar em relação à natureza. É uma tentativa inconsciente de se adaptar às Leis da natureza, às quais, em futuro próximo, não serão mais desrespeitadas por aqueles que tiverem permissão de continuar vivendo neste planeta, já que então a maior parte da humanidade terá desaparecido para sempre da face da Terra.

Essa sensação de apreensão foi descrita da seguinte maneira pelo vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, em seu livro A Terra Em Balanço:

“No entanto, não há dúvidas de que muitas pessoas – religiosas ou não – compartilham uma profunda apreensão quanto ao futuro, sentindo que talvez esteja se esgotando o tempo de nossa civilização. A ética religiosa da administração torna-se, na verdade, mais difícil de ser aceita quando se acredita que o mundo está prestes a ser destruído – por Deus ou pelo homem.”

O mundo não vai ser destruído, mas apenas aquilo que nele não tiver se desenvolvido corretamente, ou seja, a maior parte da humanidade com todas as suas excrescências e aberrações.

Há cinco séculos ainda existiam povos que viviam integrados à natureza, respeitando-a como provedora de vida para seus corpos. Relatos da conquista da América informam que os índios nômades, que usavam cortiça para se vestir, jamais tiravam a casca do tronco inteiro, para assim conservarem a árvore viva. As tribos sedentárias, por sua vez, cultivavam diversas espécies de plantas, deixando períodos de descanso para a terra, conservando-a também viva dessa forma. Mais recentemente, em 1855, um cacique da tribo Seathl mandou uma carta em resposta ao presidente dos Estados Unidos da época, o qual havia expresso o desejo de adquirir as terras de sua tribo. Essa carta é um verdadeiro manifesto de reconhecimento, gratidão e amor à natureza. Abaixo são reproduzidas algumas passagens:

“Cada folha reluzente, todas as praias arenosas, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na consciência do meu povo. (…)

Para ele [o homem branco] um torrão de terra é igual a outro. Porque ele é um estranho que vem de noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A terra não é sua irmã, mas sim sua inimiga, e depois de exauri-la ele vai embora. (…) Sua ganância empobrecerá a terra e vai deixar atrás de si os desertos. (…)

O ar é precioso para o homem vermelho. Porque todos os seres vivos respiram o mesmo ar – animais, árvores, homens. Não parece que o homem branco se importe com o ar que respira. Como um moribundo ele é insensível ao mau cheiro. (…)

Vi milhares de bisões apodrecendo nas pradarias abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros disparados do trem. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais valioso do que um bisão que nós, os índios, matamos apenas para sustentar a nossa própria vida. O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem, os homens morreriam de solidão espiritual, porque tudo quanto acontece aos animais pode também afetar os homens. Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto fere a terra fere também os filhos da terra. (…)

De uma coisa sabemos, que o homem branco talvez um dia venha a descobrir: o nosso Deus é o mesmo Deus. (…) Ele é Deus da humanidade inteira. E quer bem igualmente ao homem vermelho como ao branco. A Terra é amada por Ele. E causar dano à Terra é demonstrar desprezo pelo seu Criador. O homem branco também vai desaparecer, talvez mais depressa do que as outras raças. Ele continua poluindo a sua própria cama, e há de morrer numa noite, sufocado em seus próprios dejetos!”

Ao vermos hoje a quantidade de poluição gerada pela chamada “civilização”, e os efeitos disso no meio ambiente e nos próprios seres humanos, chegamos a conclusão que a profecia do cacique Seathl já está se cumprindo. Nos Estados Unidos, só em relação ao lixo urbano, a produção anual é de 720 kg por habitante, ou seja, cada americano produz em média quase 2 kg de lixo por dia. Outros países do Primeiro Mundo não ficam muito abaixo dessa marca, e também nos países em desenvolvimento a situação não é muito melhor. Em junho de 1997, o Brasil estava produzindo 240 mil toneladas de lixo por dia.

Não é possível, porém, estimar a quantidade total de poluentes que é jogada no meio ambiente a cada hora em todo o mundo, nem os danos que a sujeira provocada pelo ser humano moderno já acarretou ao equilíbrio ecológico do planeta. Não há uma estatística sobre isso, porque a quantidade de poluentes é grande demais para ser mensurável. Vamos, porém, dar alguns exemplos concretos do que a negligência humana e seu desrespeito à natureza já acarretaram.

Não se menciona aqui os grandes desastres industriais ou as tragédias ecológicas que, apesar de naturalmente fazerem parte da poluição gerada pelo ser humano, são também ao mesmo tempo efeitos retroativos do Juízo Final, trazendo danos imediatos a várias pessoas e ao meio ambiente do qual elas dependem para viver. (2) Faremos menção neste tópico apenas à contínua ação degradadora do ser humano na natureza e as suas consequências imediatas.

Dentre os rejeitos químicos eliminados no ar por várias indústrias, encontram-se o anidrido sulfuroso e o óxido de nitrogênio. Essas substâncias, em contato com o vapor d’água e o oxigênio do ar transformam-se em ácido sulfúrico e ácido nítrico, que por sua vez impregnam a neblina, a geada, a neve e as águas da chuva. Essas se transformam então nas chamadas chuvas ácidas.

Ao caírem na superfície, as chuvas ácidas alteram a composição química do solo e das águas, atingem as cadeias alimentares, destroem florestas e lavouras, atacam estruturas metálicas, monumentos e edificações. Segundo o Fundo Mundial para a Natureza, cerca de 35% dos ecossistemas europeus já estão seriamente alterados e aproximadamente 50% das florestas da Alemanha e da Holanda foram destruídas pela acidez da chuva. Nas florestas o efeito é particularmente terrível: as folhas das árvores são queimadas e o solo fica exposto à erosão. A vegetação da Serra do Mar, no município de Cubatão, foi seriamente afetada pelas chuvas ácidas originadas do pólo industrial ali existente, tendo sido necessários trabalhos de contenção nas encostas, na tentativa de se evitar desmoronamentos.

Na costa do Atlântico Norte, a água do mar está entre 10% e 30% mais ácida que nos últimos vinte anos. Atualmente suspeita-se que a chuva ácida facilite o acúmulo de mercúrio nos peixes e, por essa razão, alguns Estados norte-americanos vêm advertindo a população contra o consumo de peixes provenientes dos lagos mais poluídos.

A queima de carvão e combustíveis fósseis produz dióxido de enxofre, o qual também provoca a formação de chuvas ácidas. Nos Estados Unidos, onde as usinas termoelétricas são responsáveis por quase 65% do dióxido de enxofre lançado na atmosfera, o solo dos montes Apalaches apresenta uma acidez dez vezes maior que o de áreas vizinhas de menor altitude, e cem vezes maior que o de regiões onde não há esse tipo de poluição. A poluição por sulfatos (subprodutos do ácido sulfúrico) é tão intensa no Parque Nacional do Grand Canyon, que a neblina de poluentes não permite mais ver o fundo dos desfiladeiros…

Além de ser uma das principais causas da chuva ácida, o óxido de nitrogênio, em presença da radiação ultravioleta do Sol e de hidrocarbonetos, transforma-se em compostos fotoquímicos extremamente tóxicos para os vegetais.

Como as chuvas ácidas produzidas num país podem ser levadas pelo vento para países vizinhos, são também causa de incidentes internacionais. Aproximadamente metade da chuva ácida que atinge o Canadá é devida à poluição gerada nos Estados Unidos. Uma grande parte da poluição americana também atinge a Europa e desencadeia lá chuvas ácidas, conforme já comprovado através de imagens de satélites. No Brasil, uma usina termoelétrica no Rio Grande do Sul provoca a formação de chuvas ácidas no Uruguai. Parte do smog (3) de Londres queima hoje as folhas das árvores na Escandinávia.

Em 1982, o Canadá reclamou que a chuva ácida gerada pela poluição americana havia causado a morte de todos os peixes em 147 lagos da Província de Ontário, e estava dizimando os cardumes de salmão na Nova Escócia.

Cabe ressaltar que a natureza também produz chuvas ácidas. A diferença nesse caso, evidentemente, é que ela é útil. Durante uma tempestade, o calor provocado pelas descargas atmosféricas força as moléculas de nitrogênio e oxigênio existentes no ar a se combinarem e produzirem o dióxido de nitrogênio, que, dissolvido pela água da chuva transforma-se em ácido nítrico. A chuva com ácido nítrico produzido dessa forma é então uma chuva ácida natural. Quando o ácido nítrico chega ao solo é transformado em nitratos, que ajudam a fertilizar a terra. A chuva ácida da Natureza não contém o nocivo ácido sulfúrico existente na inventada pelo ser humano; além disso, o ácido nítrico produzido pela “chuva humana” aparece em quantidades muito maiores, causando danos ao invés de benefícios.

A poluição atmosférica causada pelo ser humano abrange ainda uma quantidade enorme de compostos químicos além dos já mencionados, como: monóxido e dióxido de carbono, aldeídos, peróxidos, chumbo, arsênio, cádmio, cromo, cobalto, mercúrio, asbesto, benzeno, enxofre e material particulado. Os efeitos dessas substâncias sobre a saúde humana variam de acordo com a concentração, mas podem ser resumidos como se segue: alergias, tonturas, dor de cabeça, bronquite crônica, enfisema pulmonar, pneumoconiose, alterações no tecido conjuntivo, danos na visão, hipoxia, lesões degenerativas no coração, nos rins, no fígado, no sistema nervoso central e no cérebro, defeitos congênitos e câncer. Suspeita-se que só a inalação de material particulado seja a causa da morte de cinco mil pessoas por ano em Los Angeles e outras quatro mil em Nova York. No ano de 1952, de 4 a 9 de dezembro, entre 3.500 a 4.000 pessoas morreram de bronquite aguda em Londres, vítimas de uma densa fumaça sobre a cidade.

Se a poluição do ar já é tão terrível, a das águas adquire contornos de uma hecatombe. As águas são o destino final de quase toda a poluição do meio ambiente. Tudo quanto é jogado nos ralos das pias, vasos sanitários, bueiros e mesmo nos quintais das casas, acaba interferindo no ciclo natural da água. A maior parte dos poluentes da atmosfera reage com o vapor de água na atmosfera e volta à superfície sob a forma de chuvas. A chuva ácida é apenas a formação mais danosa.

Substâncias tóxicas, não biodegradáveis, (4) dejetos orgânicos em suspensão (responsáveis pela proliferação de microrganismos patogênicos) e resíduos industriais contendo metais pesados, como mercúrio, chumbo, arsênio e cádmio, que se acumulam nos organismos vivos, são lançados sem tratamento em córregos, lagos, rios e mares. Na fauna de algumas localidades do Oceano Atlântico, como a Ilha da Madeira, foram constatadas taxas de mercúrio sete vezes maiores que o limite máximo estabelecido pela Organização Mundial da Saúde, que é de cinco miligramas para cada quilo de peso. Ou melhor, era. Um estudo do governo americano de junho de 1996 revelou que as pessoas já correm riscos quando consomem mais de 0,1 microgramas diários para cada quilo de massa corporal.

A idéia de que toda a poluição lançada no mar se dilui rapidamente também é uma ilusão. De acordo com pesquisas científicas, o tempo de mistura completa de uma partícula nos oceanos é de cerca de 500 anos… Acredita-se que garrafas e frascos de vidro podem permanecer incólumes no mar por até um milhão de anos. E, a cada ano, milhões de toneladas de poluentes – inclusive vidro – são despejados nos oceanos. Só no Mar Báltico, estima-se que sejam despejados 10 milhões de toneladas de poluentes todos os anos.

Um dos mais destruidores processos de poluição das águas é o desencadeado pelas indústrias, que despejam seus rejeitos químicos diretamente nos rios. É absolutamente impossível estimar a quantidade de poluentes que já contaminaram as águas desta forma em todo o mundo, ou sequer o número de casos mais graves. Ao invés de simbolizarem vida e movimento, os rios passaram a ser relacionados com veneno e morte.

Em 1º de novembro de 1986, um incêndio num laboratório químico suíço fez descarregar 30 toneladas de produtos tóxicos no rio Reno, matando meio milhão de peixes. Foram necessários mais de dez anos para o rio de recuperar.

Em agosto de 1995, o rio Essequibo, na Guiana, foi declarado área de desastre ambiental ao longo de 200 quilômetros de seu curso. Uma mina de ouro havia jogado no rio 300 milhões de galões de uma solução química de cianidreto. Cinco mil pessoas que dependiam do rio para pesca, banho e consumo foram imediatamente proibidas pelas autoridades de fazerem uso das águas contaminadas.

Casos mais ou menos graves do que esses ocorrem rotineiramente em todo o planeta, sem receber, todavia, o destaque e as reações que deveriam.

De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, mais de 7 milhões de produtos químicos já foram descobertos ou produzidos pela humanidade e milhares de novos compostos aparecem a cada ano. Desse total, cerca de 80 mil são usados em quantidades significativas, e sua produção deixa rejeitos químicos em grande parte perigosos. Em Londres, o Instituto do Meio Ambiente declarou sua intenção de realizar testes em mais de 60 mil substâncias químicas artificiais, em razão da suspeita de que esses compostos químicos sejam os responsáveis por alterações reprodutivas observadas em seres humanos e animais. Quando jogados no solo ou enterrados no subsolo, esses poluentes atingem e contaminam os lençóis subterrâneos. Tais lixões químicos proliferam por todo o planeta. Na cidade paulista de Cubatão, a área ocupada por esses lixões é de dois milhões de metros quadrados.

Os agrotóxicos (herbicidas, fungicidas e inseticidas agrícolas), além de contaminar as águas fazem a terra perder seus nutrientes. Em 1973, a Organização Mundial de Saúde estimou que ocorriam a cada ano nos países em desenvolvimento cerca de 250 mil casos de envenenamento por pesticidas, 6.700 dos quais eram fatais. Em 1982, a Comissão Oxford para Alívio da Fome estimou que esse índice havia-se elevado para 375 mil casos de envenenamentos anuais, com 10 mil mortes… Em 1986, o total coligido até então era de 3,75 milhões de casos de intoxicação por agrotóxicos em todo o mundo.

Será que com números dessa ordem os governos não se vêem forçados a tomar medidas mais drásticas para limitar a produção e o comércio de agrotóxicos?

A resposta é não. Esclarece-se: só no ano de 1990 as vendas de agrotóxicos no mundo movimentaram a cifra de 26,8 bilhões de dólares… As grandes indústrias químicas se esforçam hoje para desenvolver e aperfeiçoar as espécies cultivadas; não para que resistam às pragas, mas para que sobrevivam aos novos herbicidas produzidos por essas mesmas empresas…

Dos poluentes mencionados anteriormente, dois merecem destaque especial: as matérias orgânicas e o mercúrio.

Os esgotos e o lixo orgânico lançados sem tratamento nos rios acabam com toda a flora e fauna aquáticas. A matéria orgânica dissolvida alimenta inúmeros microrganismos que, para metabolizá-la, consomem o oxigênio das águas. Cada litro de esgoto consome de 200 a 300 miligramas de oxigênio, o equivalente a 22 litros de água. Se a carga de esgoto for superior à capacidade de absorção das águas, o oxigênio desaparece, interrompendo a cadeia alimentar e provocando a morte da fauna. É este o tipo de poluição responsável pelas horríveis cenas registradas de tempos em tempos na represa Billings, em São Paulo, e na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, onde os peixes, pouco antes de morrerem aos milhares, vêm à tona tentando desesperadamente sorver o oxigênio do ar.

Nos oceanos e mares, esse mesmo processo forma as chamadas “marés vermelhas”, que nada mais são do que o acúmulo de microrganismos consumidores de oxigênio. As águas ficam escuras, os peixes morrem e os frutos do mar tornam-se tóxicos para o consumo humano. Uma oceanógrafa americana observou que a morte de golfinhos, focas, botos e baleias ocorrida entre 1987 e 1992 coincidiam com o descoramento de recifes de coral e com o aparecimento de enormes marés vermelhas. Estima-se que a maré vermelha que se formou no atlântico sul entre março e abril de 1994 tenha sido a causa da morte de milhares de focas no litoral da Namíbia, na África, em junho daquele ano.

O mercúrio é o único metal que se mantém em estado líquido à temperatura ambiente, pois seu ponto de fusão é de –38,87°C. Por suas características físico-químicas é uma substância bastante útil quando usada corretamente e com segurança, como na odontologia por exemplo. Mas torna-se um veneno mortal quando é negligentemente despejado na natureza. Quando um curso d'água é poluído por mercúrio, parte deste se volatiliza na atmosfera e torna a cair na superfície com as chuvas, enquanto a outra parte é absorvida direta ou indiretamente por plantas e animais aquáticos, num processo chamado “bio-acumulação”. Esse processo provoca a concentração de mercúrio em quantidades cada vez maiores nos animais que estão mais acima na cadeia alimentar, como os peixes, que por sua vez são ainda consumidos pelas pessoas. Além disso, a atividade microbiana transforma o mercúrio metálico em mercúrio orgânico, altamente tóxico.

O mercúrio metálico provoca lesões celulares, atacando principalmente o tubo digestivo, os rins e o sistema nervoso central. Em 1956, o mercúrio orgânico foi a causa da morte de 46 pessoas e da intoxicação de centenas de outras numa vila de pescadores na baía de Minamata, no Japão, que haviam consumido peixes contaminados pelo metal, lançado de uma fábrica de produtos químicos.

Os efeitos decorrentes da contaminação com mercúrio orgânico são: estado de inconsciência, movimentos involuntários, degeneração das células do cérebro (que passa a apresentar um aspecto esponjoso), atrofiamento e degeneração do sistema nervoso, formigamento e posterior falta de sensibilidade dos membros e dos lábios, distúrbio das funções motoras, fala inarticulada, campo de visão constrito, defeitos congênitos. A baía de Minamata só foi declarada livre da contaminação pelo mercúrio em julho de 1997, mais de 40 anos depois do desastre ecológico.

Dentre todos os resíduos poluentes, os mais perigosos são os radioativos, testemunhos do parco domínio da tecnologia nuclear pela humanidade neste final de século. As substâncias radioativas são usadas como combustível em usinas atômicas de geração de energia elétrica, em motores de submarinos nucleares, em equipamentos médico-hospitalares e em instalações militares envolvidas na construção de armas nucleares.

Mesmo depois de esgotarem sua capacidade como combustível, essas substâncias não podem ser destruídas e permanecem em atividade durante milhares e até milhões de anos. Apesar de os despejos no mar e na atmosfera estarem proibidos desde 1983, não se encontrou até hoje formas seguras de se armazenar esses produtos.

Recomenda-se a utilização de tambores ou recipientes impermeáveis de concreto, à prova de radiação, que devem ser enterrados em áreas geologicamente estáveis. Acontece que essas áreas, ditas “estáveis”, podem deixar de sê-lo a qualquer momento, como atestam a ocorrência de terremotos com frequência cada vez maior em todo o mundo; além disso, essas precauções raramente são cumpridas e os vazamentos são frequentes. Em contato com o meio ambiente, as substâncias radioativas interferem diretamente nos átomos e moléculas que formam os tecidos vivos, provocando lesões celulares que podem resultar em câncer, alterações no material genético que podem acarretar mutações nas próximas gerações e modificações nas funções de certos órgãos do corpo. Acredita-se que a aspiração de um milionésimo de grama de plutônio é suficiente para causar câncer no pulmão.

Na ex-União Soviética e nos países da Europa oriental o desrespeito, diria até o desprezo para com a natureza atingiu o ápice. O materialismo do regime comunista nunca cogitou de qualquer preocupação em relação ao meio ambiente, pois isso era algo que não dizia respeito à classe trabalhadora, não passando de um capricho burguês, um passatempo que, como tal, tinha de ser devidamente menosprezado e combatido.

A desintegração do comunismo nesses países revelou uma situação inacreditável de completo descaso ambiental. O trecho a seguir foi extraído do livro A Terra Em Balanço, de Al Gore:

“Um visitante de Copsa Mica, a ‘cidade negra’ da Romênia, observou que ‘as árvores e a grama ficam tão manchadas de fuligem que parecem ter sido mergulhadas em tinta’. Um médico local afirmou que até os cavalos só podem permanecer nessa cidade por dois anos: ‘depois disso, eles têm de ser levados embora, do contrário morrerão’.

Nas regiões setentrionais da ex-Tchecoslováquia o ar é tão poluído, que o governo instituiu um prêmio para qualquer pessoa que ali residir por mais de dez anos. Aqueles que o pleiteiam chamam esse prêmio de ‘pé na cova’. Mais a leste, na Ucrânia, o número de partículas poluentes lançadas anualmente na atmosfera é oito vezes maior que em todos os Estados Unidos da América.”

A situação na Rússia consegue ser ainda mais tétrica. Em dezembro de 1994 descobriu-se que desde 1950 lixo nuclear altamente radioativo vinha sendo simplesmente injetado no chão, em terrenos próximos a grandes rios. A quantidade de radioatividade superava em 60 vezes o total liberado no mais grave acidente nuclear já ocorrido até então: o da usina de Chernobyl, na Ucrânia. O lixo radioativo enterrado atingiu lençóis freáticos através da infiltração de água no subsolo, levando a radioatividade para grandes distâncias. Três anos depois, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) informou que a Rússia “estava sentada sobre mais de 500 mil metros cúbicos de dejetos nucleares).”

Ao comentário do cientista americano Henry Kendall, prêmio Nobel de Física, de que a descoberta do lixo radioativo fora “a maior irresponsabilidade nuclear na história da humanidade”, o assessor russo para o meio ambiente, Alexei Iablokov, retrucou: “Já é um progresso, ainda há poucos anos ninguém teria sabido de nada. É uma prova de que nossa consciência ecológica está aumentando.”

Apesar de irônica, a declaração de Iablokov é verdadeira. Sobre o destino do material nuclear retirado dos mísseis da ex-União Soviética ele declarou simplesmente o seguinte: “Eu vi de que maneira o material físsil retirado de 23 mil ogivas nucleares está guardado: praticamente ao ar livre. (…) Neste país jamais alguém se preocupou com consequências, com o homem e com a natureza, e isso ainda pouco mudou.”

Para avaliarmos o alcance dessas declarações do assessor russo, basta considerar que das ogivas nucleares já desativadas da ex-União Soviética restaram cerca de 500 quilos de plutônio, que foram “armazenados” na forma que agora se conhece. O plutônio é o elemento radioativo mais tóxico que existe: tem uma meia vida de 24 mil anos no meio ambiente, e a aspiração de 2 mg é suficiente para matar uma pessoa.

As notícias atômicas se sucedem. O chefe da contra-espionagem russa, Eugeni Primakov, afirma que um quinto do território da antiga União Soviética (equivalente à metade da área do Brasil) foi contaminado por radioatividade. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) , sediada em Viena, constatou que a marinha russa continua afundando lixo nuclear nos mares. Treze submarinos nucleares russos estão estacionados indefinidamente num pequeno porto do Ártico; seus reatores funcionaram o dobro da vida útil e não podem mais ser desativados, pois nesse caso os resíduos são tão radioativos que não existem depósitos seguros para eles. Pelo menos dez submarinos nucleares, com quinze reatores, apodrecem no fundo do mar ao redor de uma ilha onde foram detonadas 132 bombas nucleares. O lixo radioativo de um dos primeiros submarinos nucleares russos foi colocado em recipientes e jogados num lixo, perto da fronteira com a Noruega, há mais de 30 anos. E continuam lá. Em dezembro de 1997, apenas 42 submarinos nucleares, dos 150 desativados, estavam sem o combustível nuclear.

Também em outros tipos de poluição a Rússia parece imbatível. O estrago causado pela poluição atmosférica em áreas inteiras próximas a cidades industriais, fez com que a Noruega declarasse algumas regiões próximas à fronteira como “território de total destruição ambiental”.

A cidade russa de Nikel, com 50 mil habitantes e equipada com instalações para produção de níquel, joga todos os anos na atmosfera 11 toneladas de metais pesados venenosos e 300 mil toneladas de gases sulfúricos, sete vezes mais do que polui a Noruega inteira com seus 4 milhões de habitantes. Numa área de 100 km² em redor de Nikel não cresce mais vegetação. Mesmo em regiões mais afastadas as autoridades proíbem a coleta de frutos silvestres ou fungos, pelo receio de envenenamento.

Na Sibéria e no Ártico, estima-se que já vazaram dos oleodutos que atravessam a região o equivalente a um ano da produção de petróleo do Kuwait. A esse respeito, advertia uma matéria da revista Veja:

“Da mesma maneira que os burocratas do átomo trataram com notável desdém o lixo nuclear – e as populações afetadas – os do petróleo compensam as perdas causadas por vazamentos nos oleodutos mal construídos simplesmente bombeando mais petróleo pela tubulação. Em fevereiro, vinte anos depois de começar a funcionar, os oleodutos apresentavam vazamentos – em média 700 por ano – que já não mais podiam ser controlados pela Komineft, a gigantesca empresa que explora o petróleo da região. (…)

O motivo dessa catástrofe – especialistas ocidentais estimam a quantidade de óleo perdida em 300 mil toneladas, sete vezes mais que no desastre do superpetroleiro Exxon Valdez – continua o mesmo da era soviética, quando 7% a 20% da produção escapava por vazamentos nos oleodutos siberianos: o medo de que uma paralisação temporária, para encontrar o vazamento, comprometa centenas de quilômetros de tubulação. A expectativa de vida dos habitantes das regiões de exploração de petróleo na Sibéria baixou de 62 anos para 55. O leite de vacas da região está contaminado por benzol, fenol e enxofre.”

Há ainda um outro tipo de lixo que é exclusivo da nossa época: o espacial. A nuvem de sujeira que atualmente órbita a Terra, produzida em apenas quatro décadas de era espacial, inclui satélites em funcionamento e desativados, restos de foguetes, tanques de combustível, parafusos, etc. Dos 3.800 foguetes e 4.600 satélites lançados nas últimas quatro décadas, só 500 ainda funcionavam em janeiro de 1998. O resto é lixo espacial. Há ainda cerca de 8 mil peças maiores que uma bola de tênis, 110 mil cacos com diâmetro entre um e dez centímetros e 35 milhões de lascas menores que um centímetro. E em 1998 e 1999 estavam previstos pelo menos 300 novos lançamentos de satélites, apenas nas órbitas baixa e média, até 30 mil quilômetros de altitude. Alguns cientistas são de opinião que as próximas estações espaciais deverão estar protegidas por escudos contra o lixo sideral…

Recentemente descobriu-se que uma estranha nuvem que orbitava a Terra a 650 quilômetros de sua superfície era radioativa, proveniente de um vazamento de um reator nuclear da ex-União Soviética, que viaja à deriva no espaço.

Aonde alcança a atuação do ser humano terreno, lá se forma algo nocivo…

É inegável que nos últimos anos a preocupação com o meio ambiente cresceu consideravelmente no mundo. Todavia, isso se deu em sua maior parte pelo receio de que o bem-estar dos povos, particularmente os dos países desenvolvidos, pudesse ser afetado de alguma maneira pela poluição crescente, conforme ficou claro na ECO-92, com seus termos ambíguos de “crescimento sustentado” e “preservação da biodiversidade”. E também com a declaração indisfarçavelmente hipócrita de que as companhias transnacionais (onde se incluem aquelas fabricantes de agrotóxicos que desenvolvem plantas resistentes a eles) são “grupos cujo papel nos processos decisórios é preciso fortalecer.”

Fabricantes de veneno decidindo sobre ecologia…

Nenhum governo, nenhuma indústria, e certamente muito poucos indivíduos, lutam contra a poluição por amor e respeito à natureza. Nos seus “manifestos ecológicos”, visam, em última instância, a preservação de seus interesses próprios e imediatos.

E um novo perigo surgiu recentemente. Na constatação de que a natureza é muito mais resistente do que se pensava, pois se assim não fosse já estaríamos todos mortos com tanto veneno, algumas pessoas querem fazer crer que a poluição não está tão ruim assim, que inclusive o mundo está mais limpo e que as perspectivas para o futuro são francamente animadoras. Esse tipo de atitude só faz enfraquecer o movimento ecológico mundial, tentando apresentar os que nele militam como pessoas “alarmistas”.

Os apaziguadores não perdem tempo. Também aqui eles colocam panos quentes em tudo e distribuem óculos cor-de-rosa para camuflar uma situação extremamente grave. Grave para os próprios seres humanos, que angariam para si mais uma culpa em seu já extenso rosário, ao sujarem inconsequentemente o planeta que habitam e destruírem levianamente o ar, as florestas, os rios e os mares. Não é o ser humano que sobreviverá à destruição da natureza, mas exatamente o contrário.

Como não poderia deixar de ser, aspectos econômicos e ameaças de desemprego são também frequentemente evocados para não se melhorar o nível de poluição, principalmente nas indústrias. Cito, como exemplo, uma empresa americana que anunciou estar suspendendo indefinidamente as atividades de sua fundição porque, conforme alegou, atender as exigências ambientais era caro demais. O comunicado deixou mil trabalhadores desempregados. Num encontro com assessores do governador, alguns funcionários exibiam cartazes com os dizeres: “Nossos bebês não podem comer ar puro!

A chantagem dessa empresa é um retrato claro do valor que a quase totalidade da humanidade devota à natureza e às suas Leis. A obediência irrestrita a essas Leis, no entanto, até agora tão arrogantemente afrontadas e escarnecidas, é a única possibilidade que o ser humano dispõe para subsistir no Juízo Final. A única e última possibilidade.

  1. A respeito da atuação dos enteais, ou seres da natureza, ver as seguintes obras de Roselis von Sass, publicadas pela Editora Ordem do Graal na Terra: O Livro do Juízo Final, O Nascimento da Terra, Os Primeiros Seres humanos. Voltar
  2. Esse assunto é abordado no tópico Acidentes. Voltar
  3. Smog: mistura de fumaça (vários poluentes) e de nevoeiro, que se forma sobre grandes concentrações urbanas e industriais sob determinadas condições atmosféricas. Voltar
  4. Alguns produtos, como as fraldas descartáveis, levam até 50 anos para se degradar; a maior parte dos plásticos, entre 4 e 5 séculos. Voltar