Parte 2 – A Efetivação

As Mazelas Humanas

Economia – Eventos Econômicos Localizados

Brasil

De 1965 a 1994, a inflação acumulada no Brasil foi de 1,142 quatrilhão por cento. Uma inflação de 16 dígitos, convenientemente amortecida pela indexação geral de preços e salários, cujo efeito último foi prover o país com a maior concentração de renda do planeta.

Em meados de 1994 foi implantado um plano econômico semelhante ao da Argentina, o qual conseguiu reduzir a inflação de 40% ao mês para cerca de 25% ao ano em 1995, 10% em 1996, e algo em torno de 4% em 1997. Um estrondoso sucesso, sem dúvida, porém apresentando alguns efeitos colaterais…

No espaço de um ano após a vigência do plano, os pedidos de falência cresceram 236,4% e os de concordata 350%. Os juros, nas palavras do próprio governo, ficaram nas alturas: 33% em 1995. A dívida pública interna passou de 59,5 bilhões de reais em julho de 1994 ( mês do início do plano) para 316,7 bilhões de reais em abril de 1998, valor correspondente a 35,3% do PIB, uma situação absolutamente inédita na história do país.

Enquanto o PIB crescia 15% entre 1993 e 1995, o emprego formal registrava um aumento de apenas 2%, uma das mais baixas relações produto-emprego do pós-guerra. Uma pesquisa realizada em janeiro de 1996 indicava que a população considerava o desemprego como o problema mais grave do país…

De fato, em maio daquele ano o índice de desemprego atingia 15,9% da população economicamente ativa da grande São Paulo, um recorde histórico. O número de ações de despejo por falta de pagamento de aluguel, um indicador bastante preciso das dificuldades financeiras da população, crescera 49,5% no ano de 1996 em relação a 1995. Em janeiro de 1998, o índice de desemprego no país era de 7,25%, o dobro do índice de 1990 e o maior desde 1984.

Algumas grandes instituições financeiras quebraram desde a implantação do plano econômico. Em agosto de 1995, a primeira intervenção federal num grande banco e a consequente indisponibilidade de parte dos recursos dos correntistas abalou o sistema financeiro do país, com saques maciços em instituições tidas como pouco confiáveis. Um jornal da época retratava assim a situação: “A intervenção desencadeou uma verdadeira paranóia entre os milhares de correntistas de todo o país. O medo de perder o dinheiro da noite para o dia tirou o sono de muita gente”. Em dezembro de 1996, o governo já tinha gasto 24,4 bilhões de reais num programa de socorro a bancos privados, estaduais e federais.

Em junho de 1997, o déficit em transações correntes (operações de comércio e serviços do Brasil com o exterior) chegou a US$ 12 bilhões, o dobro do valor contabilizado no mesmo período em 1996. Em outubro, a moeda nacional, o real, foi alvo de um ataque especulativo, efeito também dos problemas na Ásia. Para defender a moeda, o Banco Central do Brasil teve de vender US$ 8 bilhões e leiloar outros US$ 800 milhões, enquanto elevava a taxa de juros para 43,4% ao ano.