Jesus Ensina aos Homens as Leis da Criação

Leis Inflexíveis Regem a Criação

Antes de discorrermos com maior profundidade a respeito dos ensinamentos de Jesus sobre as leis da Criação de seu Pai, vamos procurar formar uma imagem da natureza e atuação delas.

Há um princípio básico da ciência do Direito que afirma: “o desconhecimento de uma lei não é uma justificativa válida para se descumpri-la”. Essa diretriz, porém, é impossível de ser observada para as leis existentes, tal seu número e complexidade. Uma pessoa que quisesse, realmente, conhecer toda a gama de leis a que está sujeita no curso de sua vida terrena, teria de gastá-la inteiramente no estudo aprofundado das inúmeras legislações em vigor. E é bastante provável que não atingisse seu objetivo.

Mas esse princípio permanece válido para as leis da Criação, a que o ser humano igualmente está sujeito durante sua peregrinação, já que ele próprio é também uma espécie dentro dela, como tantas outras. O princípio permanece válido porque, contrariamente às dos homens, essas leis naturais são muito simples e claras. Ninguém pode desobedecê-las sob alegação de ignorância, pois basta um mínimo esforço de observação para se reconhecê-las. São elas, sim, os “atributos invisíveis de Deus, que claramente se reconhecem desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas.” (Rm1:20). A Criação inteira, formada e sustentada por esses atributos, constitui a fala do Senhor às Suas criaturas, a Sua linguagem: “Sua harmonia se estende sobre toda a Terra, e Sua linguagem até as extremidades do mundo” (Sl19:5). O filósofo Fílon de Alexandria (20 a.C.? – 50 d.C.) chamava essa linguagem de “Lei não escrita da Natureza”. O cientista e filósofo inglês Francis Bacon (1561 – 1626), seguindo na mesma linha, afirmou que “não há, de longe, nenhuma interpretação superior à da Natureza”.

Todas as leis descobertas pela ciência nada mais são do que efeitos mínimos, apenas terrenalmente perceptíveis, dessas leis universais abrangentes, que traspassam tudo, perfluem tudo e mantêm tudo o que existe, inclusive o plano material da Criação posterior e, por conseguinte, também esse nosso pequeno planeta.

A terceira lei de Newton ou lei da ação e reação, por exemplo, segundo a qual um corpo sempre reage com força igual e em sentido contrário àquela aplicada sobre ele, é um efeito grosso-material, em escala reduzida, de uma lei universal básica denominada Lei de Causa e Efeito, ou mais apropriadamente Lei da Reciprocidade.

Em sentido amplo, essa lei faz retornar a cada pessoa aquilo que ela mesma produziu, seja através de pensamentos, palavras ou ações. Devolve a cada indivíduo o que foi gerado, não importando se foram coisas boas ou más. O que a física conhece é o efeito terreno, na matéria grosseira a nós visível, de uma lei cujo enunciado básico Jesus já dera à humanidade há dois mil anos com as palavras: “o que o ser humano semear, isso ele colherá” (Gl6:7).

A Lei da Reciprocidade faz de cada ser humano juiz de si mesmo, coloca em suas mãos o controle do tear da Criação, através do qual é tecido o tapete do seu destino. A própria palavra carma (do sânscrito karman) significa ação, correspondendo a uma re-ação natural e automática a um ato prévio praticado pelo ser humano.

Como a Lei da Reciprocidade estabelece que tudo aquilo que produzimos retorna sempre a nós mesmos, aos geradores, então fica claro que se semearmos coisas boas colheremos frutos bons, doces e suculentos, e que se semearmos coisas más teremos então de deglutir frutos amargos e podres. Observe-se que Jesus não disse que o ser humano poderia colher, ou que talvez colhesse, mas sim afirmou taxativamente: colherá, sem meio-termo, sem escolha, sem escapatória.

É uma situação análoga a que ocorre numa semeadura aqui na Terra. Sabemos, por exemplo, que numa plantação de arroz não pode brotar nenhum ramo de trigo, e que numa de feijão jamais surgirá um grão de soja. Essa regra vale para qualquer espécie vegetal: “acaso pode uma figueira produzir azeitonas ou uma videira produzir figos?” (Tg3:12). Não, não pode, assim como “não se colhem figos de espinheiros nem uvas de urtigas” (Lc6:44). A esse respeito, também o filósofo latino Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.) já constatara muito apropriadamente : “O bem não sai do mal, assim como o figo não sai da oliveira.”

Continuando com essa metáfora da semeadura, podemos asseverar que se porventura semearmos cardos, não poderá surgir dessa sementeira nenhuma fruta apetitosa. Naturalmente ninguém duvidará disso, de tão óbvio. Contudo, essa mesma lei natural que atua numa sementeira terrena de modo assim tão implacável, não admitindo o menor desvio em seus efeitos, a ponto de considerarmos isso de uma obviedade ululante, essa mesmíssima lei age igualmente sobre o ser humano, que nada mais é também do que um fruto da Criação, como tantos outros.

Um fruto, aliás, bem pequeno dentro do imenso pomar da natureza, uma criatura como qualquer outra, apenas com a diferença marcante de ser a única que trabalha diligentemente há milênios pela sua própria destruição. Por ser uma criatura, o ser humano está sujeito incondicionalmente às leis naturais, que nunca permitem que algo insano permaneça conspurcando indefinidamente a natureza…

Esse ensinamento de incondicional reciprocidade já fora transmitido à humanidade em numerosas passagens do Antigo Testamento, sempre pródigo em esclarecer que tanto o justo como o ímpio são responsáveis pelo seu próprio destino, confirmando com esses adágios sábios que, de fato, “peso e balança justos pertencem ao Senhor” (Pv16:11). Vejamos alguns deles:

Ainda no âmbito do Antigo Testamento, os livros do Pentateuco registram vários quadros de reciprocidade. Vemos ali que enquanto o povo israelita se mantinha fiel às condições da Aliança com o Senhor, a viagem através do deserto e a vida corriam bem para todos, mas quando desobedecia, isto é, quando pecava, o resultado eram atrasos, derrotas e morte. No livro de Juízes vemos a mesma situação repetida vezes sem conta: recompensa na obediência, castigo na desobediência. Sem contemporização. O profeta Amós se referiu à impossibilidade de alguém fugir dos efeitos da reciprocidade com uma imagem bastante singela: “É como o indivíduo que foge de um leão e topa com um urso; ou que, entrando em casa, apóia a mão na parede e é mordido por uma cobra” (Am5:19). O apóstolo Paulo aludiu à reciprocidade que atingiu os israelitas durante o êxodo em sua primeira Epístola aos Coríntios: “A maior parte deles desagradou a Deus, e por isso caíram mortos no deserto” (1Co10:5).

No Novo Testamento também encontramos várias passagens indicativas da atuação da Lei da Reciprocidade. Particularmente no livro do Apocalipse (1) o conceito de reciprocidade está sempre presente, como neste exemplo: “Se alguém leva para cativeiro, para cativeiro vai; se alguém matar à espada, necessário é que seja morto à espada” (Ap13:10). A sabedoria popular assimilou essa verdade da reciprocidade indesviável e formou o conhecido ditado: “Quem com ferro fere, com ferro será ferido”.

Todavia, quando Jesus disse que o ser humano teria de colher o que semeasse, estava transmitindo o funcionamento dessa Lei da Reciprocidade de uma maneira absolutamente abrangente e condensada, que mais clara não poderia ser. Tal lei, que atua tão inflexivelmente em relação às sementes produzidas pela natureza, a ponto de, conforme vimos, nem nos darmos conta dela, atua também com a mesma inflexibilidade, com a mesma segurança e implacabilidade em relação às sementes produzidas pelo próprio ser humano, que são suas intuições, seus pensamentos, suas palavras e suas ações. Essas sementes também são plantadas num campo específico de cultivo, constituído de uma matéria mais fina do que a que compõe nosso mundo terrenal, razão pela qual não as distinguimos com nossos olhos corpóreos. Contudo, elas igualmente brotam lá naquele campo, também crescem e dão os frutos correspondentes, os quais então têm de ser colhidos por quem as semeou.

Uma semeadura má de matéria fina é como uma pedra amarrada com um fio elástico e presa à mão de uma pessoa, que a lança com maior ou menor força contra algo ou alguém. Atingindo ou não seu alvo, a pedra sempre retornará para a pessoa que a jogou, também com maior ou menor intensidade, dependendo da força com que foi lançada. A pessoa em questão pode representar a humanidade, um povo, uma comunidade, ou ainda o próprio ser humano individual. A pedra representa o produto gerado pela vontade má: as intuições negativas, os maus pensamentos, as palavras maldosas e as ações erradas. O elástico, por sua vez, é absolutamente indestrutível: representa a atuação dessa incontornável Lei da Reciprocidade. Tão incontornável ela é, que o apóstolo Paulo advertiu os Gálatas na explosiva carta que lhes dirigiu: “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer!” (Gl6:7). A respeito dessa sentença, diz Abdruschin em sua obra Na Luz da Verdade, dissertação “Eu sou o Senhor, Teu Deus!”:

“O saber da perfeição de Deus e o fato de tê la sempre em mente são a chave para a compreensão da obra de Deus, à qual pertence igualmente o próprio ser humano.

Então reconhecerá a força dominadora e a severa advertência da sentença: ‘Deus não se deixa escarnecer!’ Por outras palavras: Suas leis se cumprem ou se efetuam imutavelmente. Ele deixa funcionar as engrenagens da Criação, conforme as ajustou. Um homúnculo nada alterará nisso. Se o tentar, o máximo que poderá conseguir será que todos aqueles que o seguirem cegamente sejam dilacerados juntamente com ele. De nada lhe adianta, se acredita de modo diferente.”

O ser humano que tem convicção na Justiça do Criador, sabe intimamente que nada de mal poderá atingi-lo se ele mesmo não tiver dado motivo para isso. Se é tocado por algo desagradável, então tem de apontar o dedo somente para si mesmo; da mesma forma, ele também saberá que agiu corretamente quando recebe inesperadamente algo de bom. Tudo o que fazemos aos outros fazemos, na realidade, a nós mesmos. Aquilo que damos, recebemos; o que semeamos, colhemos. Sempre. Tanto em qualidade como em quantidade. Não existem injustiças nos efeitos da reciprocidade. Em sua segunda Epístola aos Coríntios, Paulo ensinou: “aquele que semeia pouco, pouco também ceifará, e o que semeia com fartura, com abundância também ceifará” (2Co9:6).

Se não existem injustiças, naturalmente também não podem existir sofrimentos injustos. Geralmente se considera os acidentes, as doenças graves, as decepções, etc., como golpes arbitrários do destino, como dores perfeitamente dispensáveis, uns “azares” da vida que atingem ao acaso essa ou aquela pessoa. É o que aparentam externamente, contudo não é assim.

Não existe nenhum tipo de injustiça nos efeitos recíprocos que nos atingem nesta nossa época. Não há arbitrariedade de espécie alguma. Tudo, mas tudo mesmo que nos toca agora foi gerado por nós mesmos, em algum ponto da nossa existência. O homem sempre colhe o que semeia. Sempre colhe. Com efeito, “o mal não sai do pó, e o sofrimento não brota da terra: é o homem quem causa o sofrimento como as faíscas no ar” (Jó5:6,7). Sim, nenhum fio de cabelo nos pode ser arrancado (cf. Lc21:18), se nós mesmos não tivermos fornecido as condições para isso.

A dor que nos assola vez ou outra, seja do corpo ou da alma, não tem apenas a função benfazeja de ajudar a conservar a saúde física, mental e anímica. A sua atuação vai além. Ela é um efeito direto da Lei da Reciprocidade – a guardiã da ordem na Criação. É o efeito final de uma atuação anterior contrária às disposições que regem a natureza. Quem é atingido por uma dor deve não somente procurar limpar as toxinas do corpo e da alma, mas também reconhecer que fez algo de errado, quer se trate da vontade interior, dos pensamentos, das palavras ou dos atos praticados. A gravidade do erro que foi perpetrado outrora pode ser avaliada pela intensidade da dor que nos atinge, pois não podemos receber nada diferente daquilo que nós mesmos geramos, que nós mesmos semeamos.

Há aqueles que, misteriosamente, são atingidos só de raspão por alguns poucos golpes esporádicos, e chegam ao fim da vida com apenas algumas escoriações. Outros, ao contrário, são duramente golpeados, profunda e continuamente, de modo que suas feridas nunca cicatrizam inteiramente. Para eles, a vida se resume num martírio intermitente. Passam suas vidas monitorando temerosamente essa espada de Dâmocles da dor, que vez por outra desce inesperadamente sobre eles, golpeia-os sem dó nem piedade e retorna à sua posição ameaçadora. Por que essa diferença?

A dor nunca é obra do acaso, nunca é injusta. Dores tidas como injustas só são consideradas assim porque falta à humanidade hodierna a visão das verdadeiras causas. Essa visão lhe foi sendo subtraída paulatinamente, ao longo de milênios, à medida que se afastava cada vez mais do modo correto de vida, preconizado por leis universais e reiteradamente ensinado a ela pelos vários Precursores e profetas dos tempos antigos. Hoje, a maior parte dos seres humanos é constituída de míopes e cegos espirituais, absolutamente incapazes de enxergar essa verdade tão simples, de que tudo quanto nos atinge foi provocado por nós mesmos, como seres de espírito que somos, em alguma época da nossa existência, que abrange milhares de anos e não apenas algumas poucas décadas de uma única vida terrena.

É essa visão curta que impede a humanidade de descobrir quem colocou as espadas de dor individuais sobre a cabeça de cada um. Cada um de nós forjou sua própria espada e a colocou sobre a cabeça no exato momento em que deu o primeiro passo em qualquer um dos inúmeros falsos atalhos abertos por essa mesma humanidade, os quais levam por fim à perdição, desprezando assim o caminho verdadeiro previamente existente, colocado à nossa disposição pelo Criador. E quanto mais longe alguém enveredou por algumas dessas falsas veredas, sem dar atenção aos avisos e advertências que ainda chegavam até ele, tanto mais afiado foi se tornando o fio da sua espada particular e tanto mais golpes recebeu e continua recebendo, na tentativa de fazê-lo reconhecer seu erro e retomar ainda a tempo o caminho certo, tão leviana, teimosa e criminosamente abandonado. Portanto, há de se reconhecer somente imenso Amor nos efeitos recíprocos dolorosos que nos atingem em nossa peregrinação pelas materialidades, independentemente da crença de cada um, os quais nos conservam vivos espiritualmente: “[O Senhor] corrige o homem com dores no leito, para impedir sua alma de cair na cova, e sua vida de cruzar o canal da morte” (Jó33:19,18).

Poderíamos fazer uma analogia disso com uma situação bastante comum do dia-a-dia, quando se vai fazer uso de um automóvel. Ao se abrir a porta, uma borboleta ou qualquer outro inseto voador entra no carro e começa a se debater no vidro da frente. A pessoa que está no carro procura ajudar a borboleta a escapar dali, dando-lhe pequenos golpes com a mão. Para a borboleta, porém, a situação é desesperadora: além de estar presa em algo que não vê, ainda existe alguma coisa tentando golpeá-la por trás! Ela não sabe que aqueles golpes estão, na verdade, auxiliando-a, para que reencontre o caminho da liberdade perdida. De maneira semelhante ocorre com o ser humano que por vontade própria ficou preso nas teias invisíveis dos falsos caminhos, mas que, mesmo assim, se mostra merecedor de auxílio, devido aos esforços sinceros em querer seguir os preceitos do seu Criador. Receberá sua ajuda com toda a certeza, pouco importando a forma como isso se dê, se lhe causa ou não algum sofrimento momentâneo. Um ser humano que tenha adquirido um tal reconhecimento jamais se atreverá a perguntar novamente: “Se o Senhor está conosco, por que nos vieram todos esses males?” (Jz6:13). Saberá que a reciprocidade é efeito do mais puro Amor!

Cito aqui um trecho da dissertação “O Guia Espiritual do Ser Humano”, da obra Na Luz da Verdade, de Abdruschin:

“Graça e Amor, única e exclusivamente, se encontram nos efeitos de todas as leis que existem na Criação, e as quais, ascendendo, convergem finalmente para a única e grande lei fundamental: a lei do Amor!”

Uma dor profunda é capaz de libertar a intuição dos emaranhados terrenos e de levá-la a uma região de onde pode advir auxílio. A dor profundamente intuída eleva-se qual um grito de socorro, mesmo que ainda não se tenha moldado numa oração. E quando a aflição está no auge, aí é que o auxílio do Senhor se encontra mais próximo de nós: “Perto está o Senhor de todos os que O invocam, de todos os que O invocam em verdade. Deus é nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações” (Sl145:18;46:1). A súplica de uma alma aflita eleva-se poderosamente para cima, porque nesse momento tudo quanto é inferior terá ficado para trás: “Senhor, escuta minha oração e chegue a Ti o meu clamor! Não me ocultes o Teu rosto no dia da minha angústia!” (Sl102:2,3). Para esta alma que clama auxílio, purificada pela dor, o Senhor não ocultará o Seu semblante, mas a libertará de sua angústia pela atuação das leis que inseriu na Criação: “Na sua aflição, clamaram ao Senhor, e Ele os livrou de suas angústias” (Sl107:6).

O livramento permanente da angústia é garantido pela disposição íntima do aflito de viver daí em diante de modo renovado, sempre em conformidade com as leis naturais. Decorre de sua firme intenção de finalmente voltar-se para o Senhor e escutar Sua voz, a qual fala nitidamente para ele através dessas mesmas leis: “Quando estiveres na aflição, quando tudo isto te ocorrer, nos dias futuros, voltarás ao Senhor, teu Deus, e escutarás Sua voz” (Dt4:30). Essa “volta ao Senhor para escutar Sua voz” é a mesma coisa que “fazer a Sua Vontade”, condição incontornável para poder também ser ouvido por Ele, nesse colóquio entre o Criador e Sua criatura: “Se alguém é piedoso e faz a Sua Vontade, a este Ele ouve” (Jo9:31).

A Lei da Reciprocidade também dispõe sobre o equilíbrio. Observamos nitidamente seus efeitos nos locais onde a influência humana ainda não chegou. Um ecossistema ainda não corrompido pela ação humana desagregadora estará sempre em equilíbrio. Jamais apresentará uma disparidade acentuada entre o número de espécies que o compõem. Também nunca se observará ali algum dos integrantes tentar destruir o ecossistema, visando angariar vantagens para si… Não haverá tampouco uma espécie desprovida do necessário para sua sobrevivência, tendo de passar por penúrias materiais. As aves do céu, por exemplo, “não semeiam, não colhem nem ajuntam em celeiros, contudo o Pai celeste as sustenta” (Mt6:26); Ele também “dá alimento aos animais e aos filhos dos corvos” (Sl147:9). Sim, “o Senhor dá o alimento a todo ser vivo, pois eterno é Seu Amor” (Sl136:25), ou seja, cada uma de Suas criaturas sempre disporá do necessário para a manutenção da vida terrena, em consonância com a atividade das leis universais eternas, oriundas do Amor divino: Ele “nos dá tudo com abundância, para nosso usufruto” (1Tm6:17).

Os seres que pertencem a um ecossistema dão de alguma maneira algo para o todo, e recebem em contrapartida o necessário para sua subsistência. Vivem num equilíbrio contínuo entre o dar e o receber. Mesmo as espécies do reino vegetal obedecem automaticamente a essa Lei do Equilíbrio. Plantas e árvores recebem da natureza os nutrientes do solo e dão a ela flores e frutos; utilizam o gás carbônico da atmosfera e devolvem a ela o oxigênio.

Já a espécie humana se comporta de maneira diferente. Justamente ela, que com sua organização social deveria constituir um exemplo vivo de obediência incondicional à Lei do Equilíbrio, desprezou-a com teimosia, na mais leviana autopresunção, apresentando-se arrogantemente diante do Criador com a “mão aberta para receber e fechada para retribuir” (Eclo4:31).

Devido à sua constituição espiritual, a espécie humana ocupa uma função especial dentro da natureza. Sua missão consiste em elevá-la e enobrecê-la, aperfeiçoando na matéria o modo de cumprimento das leis vigentes. Assim estava previsto. Um contínuo e harmônico desenvolvimento, terreno e espiritual, levado a efeito pela atuação do espírito humano na matéria, sem enaltecer um em detrimento do outro. Tal como Jesus indicou na frase: “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mc12:17).

No entanto, como vimos no capítulo anterior, essa expectativa não se confirmou. Todas as outras espécies continuaram obedecendo a seu modo, instintivamente, as leis da Criação, mas o ser humano, o elevado ente espiritual que deveria zelar pela natureza, não deu nenhuma importância a essas leis básicas. Leis que vigoravam antes do seu aparecimento na Terra… Não procurou conhecê-las nem compreendê-las, muito menos ainda cumpri-las. Colocou-se presunçosamente acima delas, como se não lhe dissessem respeito. Em sua inconcebível arrogância arvorou-se em senhor da Criação, enquanto nem cumpria seus deveres de simples hóspede dentro dela. Plantou sementes más, e por isso colhe hoje os frutos correspondentes: violência, miséria, fome, doenças.

Essas desgraças não são obras do acaso, não são golpes do destino nem castigos divinos, mas tão-somente efeitos automáticos da vontade humana errada. Jamais esteve previsto que coisas desse teor tivessem de existir aqui na Terra, nem em parte alguma da Criação. Foi a própria humanidade que insistiu em criar para si mesma esses males, ao atuar sistematicamente durante milênios e milênios em sentido diametralmente oposto ao indicado por essas leis férreas. Foi ela que montou sua caixa de Pandora com esse horrores, que a Lei da Reciprocidade tratou de abrir. Ao invés de direcionar seu livre-arbítrio para incrementar ainda mais a beleza circunjacente, como era com razão dela esperado, a humanidade fez o inverso disso. E agora… agora ela olha perplexa para o resultado do seu querer, obrigada a viver em meio ao horror de suas obras falsas.

A Bíblia nos dá indicações sobre o porquê dessa calamidade, conforme enfatiza o teólogo italiano Bruno Maggioni: “A visão da Bíblia é de que o sofrimento não vem de Deus como algo positivo; vem do pecado.” Sim, do pecado gerado e praticado em múltiplas formas pelo Homo sapiens, que de “sapiens” só tem mesmo esse irônico título auto-outorgado, visto que jamais quis de fato adaptar-se sabiamente, como um ser pensante, às vigentes leis naturais. Longe disso. Nossa espécie optou por construir para si um habitat artificial aqui na Terra, onde passaram a vigorar outras leis, desconhecidas da natureza até então: egoísmo, cobiça, imoralidade, inveja, astúcia, ódio. O ser humano quis dominar a natureza imaculada para reinar inconteste sobre ela para sempre. E, para tanto, não se deteve diante de nada: poluiu o ar, sujou rios e mares, envenenou o solo, maltratou e matou animais que, como ele, também tinham o mesmo direito de viver e se desenvolver neste planeta. Ele é a própria imagem do destruidor, do “perverso, de coração cruel, que não atenta para a vida dos seus animais” (Pv12:10). Tudo tinha de girar em volta dele, o Universo inteiro havia sido criado unicamente para servi-lo…

Rematada tolice é pouco para descrever tamanha arrogância, à qual é preciso acrescentar ainda uma enorme dose de estupidez. Só mesmo estupidez em alta dosagem não deixa perceber que tudo quanto é vivo na natureza apresenta um múltiplo valor de utilidade. De bactérias a baleias, de arbustos a sequóias, tudo tem sua função no mundo. A necessidade de ser útil no conjunto da natureza é condição indispensável para uma espécie poder continuar a fazer parte dela. Enquanto uma determinada espécie seguir esse curso natural de desenvolvimento, aperfeiçoando continuamente a contribuição que dá à natureza como um todo, ela tem assegurada sua permanência no mundo, protegida pela própria natureza. Mas, se por qualquer motivo se afastar desse caminho natural, tornando-se nociva ao invés de útil, será simplesmente eliminada do mundo, por efeito automático de leis também naturais. Uma espécie mutante perniciosa é automaticamente excluída, para resguardo e proteção das demais espécies. Trata-se apenas de um processo de autoconservação global, que a humanidade está sendo obrigada a vivenciar agora da maneira mais dramática possível, na forma de doenças terríveis, alterações das condições ambientais do planeta e catástrofes naturais crescentes.

A humanidade se comporta, já há muito, como uma unha infeccionada de um artelho, a qual vem resistindo a todas as tentativas de cura. Contudo, se a infecção avança e se mostra mesmo incurável, é preciso extrair a unha ruim, para que o dano não progrida e acabe afetando o funcionamento de todo o pé. No lugar da unha arrancada, logo crescerá uma nova unha sadia. A única coisa desconcertante no processo curativo análogo em curso no corpo da Criação, é que essa unha, que representa a humanidade, já está tão degenerada pela doença que acredita poder continuar crescendo fora do corpo…

Ainda como decorrência direta da lei básica da Reciprocidade, temos também a necessidade de movimentação na Criação.

Na escola aprendemos que um corpo só pode conservar seu movimento se suplantar as forças que a ele se antepõem. Na Terra, o atrito e a gravidade agem freando o movimento dos corpos, de modo que é preciso sempre gastar determinada quantidade de energia para se conservar um movimento qualquer. Automóveis, aviões e foguetes queimam combustível para manterem-se em movimento; pássaros têm de vibrar suas asas para permanecerem no ar, e peixes as suas barbatanas para não afundar. Todo corpo precisa de um aprovisionamento contínuo de forças, que despende para conservar-se em movimento. E tem de prosseguir movimentando-se continuamente, se não quiser descer do lugar em que se encontra.

Se for impedido disso por qualquer motivo, a lei da adaptação o moldará de acordo com o respectivo grau de movimentação. Normalmente se diz que pingüins, emas e avestruzes não podem voar porque suas asas são muito pequenas e inapropriadas para o vôo. Na verdade acontece o contrário. Por terem deixado de voar devido à sua adaptação de vida no solo, suas asas se atrofiaram e não permitem mais que esses pássaros voem. O bicho-da-seda é outro exemplo: por ter sido cultivado por tanto tempo pelo homem, perdeu a capacidade de voar. Se o ser humano, por qualquer motivo, não movimentar suas asas espirituais, essas igualmente se atrofiarão, de modo que não poderá mais alçar um vôo às alturas, mesmo que queira.

Na Criação, parar significa estagnação, retrocesso, a que se segue a deterioração. Se um cantor não exercita sua voz, ela logo perde o timbre e a vivacidade; se deixarmos de falar ou escrever uma língua que tivermos aprendido, logo esqueceremos seus princípios básicos e teremos dificuldades crescentes em nos comunicar com ela; se um braço fica engessado por muito tempo, se atrofia e enrijece; se a água da chuva se acumula numa poça qualquer, apodrecerá em pouco tempo. Na física, esse fenômeno de perda de utilidade, ou “aumento da desordem”, é chamado de entropia. Os cientistas constataram que num sistema fechado (sem movimentação), a desordem, portanto a entropia, sempre cresce com o tempo. Esta é, aliás, a base da segunda lei geral da termodinâmica.

Essa lei terrenamente reconhecida, porém, é apenas mais um corolário, somente mais um efeito visível na matéria de uma lei muito mais ampla: a Lei do Movimento na Criação. Essa Lei do Movimento estabelece que a conservação e o desenvolvimento só são possíveis através da movimentação permanente. Assim como acontece com as demais, também essa lei atravessa todos os planos da obra da Criação, perfluindo por conseguinte todas as suas criaturas. Por essa razão, o espírito humano também está sujeito a ela, independentemente se vive aqui na Terra ou em alguma outra parte do assim chamado Além.

Por isso, se quiser manter-se sadio, se pretender, inclusive, permanecer existindo, o espírito humano precisa movimentar-se continuamente. E na direção certa. Tem de aperfeiçoar-se constantemente no sentido do bem. Tem de fazer prevalecer sua vontade sobre os obstáculos que a ela se antepõem, como o comodismo, a indolência, as falsas diretivas impostas pelo raciocínio cismador, a crença cega e tanta coisa mais. Se não se animar em suplantar esses obstáculos, também ele, o espírito humano, acabará estacionado em seu desenvolvimento, cuja conseqüência inicial é o atrofiamento de suas capacitações e, por fim, a sua própria e automática desintegração. No gigantesco mecanismo da engrenagem universal uma peça defeituosa é simplesmente lançada fora num dado momento, para que o conjunto inteiro não sofra danos.

Foram igualmente esses dois maiores inimigos da humanidade em todas as épocas: o domínio irrestrito do raciocínio e a concomitante indolência do espírito, que cuidaram de eliminar todos os impérios que já passaram por aqui, tidos e havidos como eternos em suas respectivas épocas, mas cujo apogeu nada mais era no fundo do que uma mistura pútrida de cobiça e crueldade. Quadros falsos, pintados com violência e lustrados com imoralidade, recobertos com um verniz de glória aparente. Desde tempos imemoriais “o poder passa de uma nação a outra pela injustiça, pela violência e pela riqueza” (Eclo10:8). E o resultado final sempre foi destruição e descalabro por toda a parte. Acaso alguém supõe que agora, em nossa época, o processo será diferente? Vale lembrar que as leis da natureza são as mesmas de outrora, e que elas são imutáveis, eternas… A História mostra com muita nitidez como a violência é completamente inútil para a conservação de um Império. É o mesmo filme de sempre, o mesmo roteiro, apenas rodado com outras personagens e em outras paragens. Assim se mostraram a ascensão e queda dos Impérios Assírio, Babilônico, Romano, Bizantino, Britânico... No auge de seu poderio, os colonizadores ingleses gostavam de dizer que no Império Britânico “o Sol nunca se põe”. E os povos colonizados completavam: “e o sangue nunca seca...”. (2)

Da criatura humana é exigido, pois, que se movimente continuamente na direção certa, a fim de manter sadia a si própria e seu ambiente. Essa movimentação deve servir-lhe também para obter uma compreensão clara de suas atribuições dentro do imenso mecanismo da obra em que vive. Jamais esteve previsto que o desenvolvimento do ser humano aqui na Terra tivesse de se processar no escuro, às apalpadelas, sem uma compreensão clara de sua origem e missão. Pelo contrário. Desde o nascimento do primeiro ser humano na Terra, já estava determinado que ele teria informações crescentes sobre o sentido da vida e seu papel na engrenagem universal. Mas isso sempre e somente quando atingisse, por si mesmo, um determinado grau de maturidade. Nunca antes, pois o solo precisa estar adequadamente preparado para a semeadura, caso contrário ela não vinga.

Essa contingência espiritual de o ser humano ter de se esforçar sozinho para amadurecer remonta, pois, aos primórdios da humanidade, e desde então não mudou de maneira alguma. Permaneceu sempre a mesma, porque é determinada por essa Lei do Movimento na Criação. No Antigo Testamento também vemos referências claras a respeito dessa lei, como nessa passagem de Eclesiastes: “Quem somente observa o vento nunca semeará, e o que olha para as nuvens nunca segará” (Ecl11:4).

Uma lei da Criação é, por definição, imutável, pois o que já é perfeito não pode, evidentemente, estar sujeito a aperfeiçoamentos. É contingência indesviável que o ser humano precisa amadurecer por si mesmo, através das vivências que encontra em suas peregrinações nas materialidades, caso quiser ascender. Atingido um certo grau de maturidade, torna-se-lhe então possível acolher reconhecimentos mais elevados, que levantam um pouco mais para ele o véu da atuação do mecanismo do Universo, mas sempre dentro das limitações impostas pelo conceito que tem de espaço e de tempo.

O conceito de espaço e tempo também depende categoricamente da movimentação do espírito, estando, portanto, vinculado à Lei do Movimento. As idéias científicas de tempos mutáveis, que podem ser esticados ou encolhidos, são apenas tentativas de se compreender a variação do conceito de espaço e de tempo, este sim mutável.

De fato, não é o tempo que muda, e sim a percepção que temos dele. Quanto mais elevado for um espírito humano, tanto mais vivenciará e assimilará num determinado tempo. Em outros planos da Criação, os conceitos de espaço e tempo são completamente diferentes, permitindo que um ser humano nessas regiões vivencie muito mais do que seria possível aqui na Terra. Lá não atua mais o raciocínio preso à matéria, e sim a intuição espiritual, que proporciona uma vivência muito mais intensa de tudo. E isso vai num crescendo até o plano espiritual da Criação, denominado Paraíso, o destino final dos espíritos humanos que se desenvolveram de modo certo. Lá, um ser humano vivencia no espaço de um dia terreno tanto quanto em mil anos terrenos. Foi por isso que Pedro disse: “com o Senhor [isto é, no reino Dele], mil anos são como um dia” (2Pe3:8), reproduzindo o mesmo ensinamento contido no salmo: “Pois mil anos são aos teus olhos como o dia de ontem que passou” (Sl90:4), e que também aparece no livro apócrifo de Jubileus: “Mil anos são como um dia no céu” (Jb4:29). (3)

A passagem a seguir tem o mesmo sentido: “Verdadeiramente, um dia em vossos átrios vale mais que milhares fora dele” (Sl84:11). Esses átrios representam a região mais elevada que um ser humano pode alcançar quando plenamente maduro: o reino espiritual a ele destinado, como máxima distinção que possa ser conferida a um espírito humano. Correspondem aos vestíbulos de um Templo excelso, o Supremo Templo do Graal, situado muito acima do Paraíso, no ápice da Criação primordial.

Quanto maior mobilidade apresentar, pois, um espírito humano, quanto mais aplicado e atuante for, tanto mais vivenciará num certo espaço de registro de tempo, mesmo aqui na Terra. Exteriormente isso se mostra como uma aparente dilatação temporal, isto é, tem-se a impressão de que para uma determinada pessoa o tempo parece esticar, de forma a permitir que ela faça tudo a que se propusera. Interiormente, porém, dá-se o contrário. Para aquela mesma pessoa o tempo parece voar, de modo que mal consegue utilizá-lo como gostaria na consecução dos seus objetivos. Contudo, não foi o tempo que voou com tamanha rapidez, e sim a respectiva pessoa é que atuou diligentemente dentro dele. Foi ela que propriamente “voou” dentro do tempo, e por isso, somente por isso, ele pareceu passar tão rápido. Dizem que, no fim da vida, Leonardo da Vinci se queixou de não ter tido tempo de fazer tudo quanto gostaria…

O tempo está indissoluvelmente ligado ao espaço. Tempo-espaço é o binômio concedido a cada criatura para o seu desenvolvimento, esteja ela na matéria ou em qualquer outra parte da Criação. A primeira frase da Bíblia diz que “no princípio, Deus criou o céu e a Terra”. Esse “princípio” quer significar o aparecimento do tempo e do espaço, dois conceitos atrelados à toda obra criada. Antes desse “princípio” só existia o que não foi criado: o próprio Criador e a eterna esfera divina. O gênero humano atua e se desenvolve dentro do espaço e do tempo inerentes à Criação: o Senhor do céu e da Terra “fixou a seqüência dos tempos e os limites para a sua habitação” (At17:26).

O cientista Albert Einstein, um dos poucos que sobressaíram do costumeiro padrão rígido dos discípulos da ciência, através de uma impressionante segurança intuitiva, estabeleceu como base de sua revolucionária teoria da relatividade que as leis da natureza permanecem as mesmas para todos os observadores em movimento livre. Com isso, ele demonstrou que o espaço e o tempo estavam intimamente relacionados, de modo que um não poderia existir sem o outro.

Isso é um fato, contudo o tempo não se altera. Ele permanece parado. O que muda é, conforme dito, a percepção que temos dele, segundo nossa própria mobilidade espiritual. É como numa viagem de trem, em que a paisagem parece passar com maior ou menor rapidez diante da janela, conforme a velocidade da composição. Apesar de dar essa impressão, não é a paisagem que se movimenta, e sim o trem é que passa por ela com velocidade maior ou menor. A paisagem é o tempo, o trem é o espírito humano, a velocidade é sua capacidade de vivenciar. Isso vale não somente para a vida terrena, mas para toda a existência humana. A tão sonhada máquina do tempo sempre esteve ao alcance do ser humano: é ele próprio.

Mesmo aqui na Terra podemos observar essa diferença de percepção do tempo ao longo da vida. Todos nós, certamente, já notamos uma mudança na velocidade de assimilação dos fatos a partir da adolescência. A partir daí o tempo parece correr mais rápido, porque é nessa época que o espírito passa a atuar. Na infância tínhamos a nítida impressão de que o tempo passava mais devagar. Parecia decorrer uma eternidade até o período de férias chegar; a festa de Natal, sempre ansiosamente aguardada, era um evento que se repetia mui raramente; o dia do aniversário, então, parecia até um golpe de sorte quando finalmente despontava. À medida que crescemos, a estória se inverte. Parece que o tempo se acelera. Mal repetimos nossas eternamente imutáveis resoluções de ano novo, e as semanas e meses já iniciam sua desabalada carreira. Quando nos damos conta já estamos prestes a ultrapassar o primeiro semestre, para logo em seguida nos surpreendermos com os primeiros acordes natalinos. E, no entanto, sabemos que as intermináveis horas da infância possuem os mesmos fugazes 60 minutos da fase adulta.

A explicação dessa mudança de percepção está, pois, na vivência. É a vivência do ser humano que se intensifica a partir de certa idade, e não o tempo. O tempo não muda. Os movimentos dos ponteiros do relógio apenas registram numericamente nossa passagem dentro do tempo aqui na Terra. O tempo não passa, nós é que passamos dentro dele. Quando o corpo terreno atinge um determinado estado de maturação, na adolescência, o espírito dentro dele passa a se fazer valer plenamente, e então as vivências se intensificam. O simples início natural e automático da atuação espiritual já é, pois, suficiente para alterar a percepção do tempo, mesmo aqui na Terra, em escala reduzida.

Contudo, na quase totalidade dos casos o espírito não atua como deveria a partir dessa época tão especial da vida. Ao invés de se manter no comando da situação, conforme seria de se esperar e, aliás, como é sua função, o espírito humano quase sempre se curva às imposições do raciocínio, excessivamente estimulado e unilateralmente desenvolvido já no início da segunda década de vida. A vontade espiritual não consegue se sobrepor à intelectiva, e assim o espírito, que é tudo no ser humano, que é a bem-dizer ele próprio, quase sempre se torna escravo do seu raciocínio, um mero instrumento a ele concedido para utilização durante a vida terrena.

Por isso, toda essa correria da vida moderna não constitui nenhum incremento real de vivência para o espírito, conforme Jesus já indicara na advertência a Marta, irmã de Maria de Betânia: “Marta, Marta, tu te inquietas e te agitas por muitas coisas; no entanto, pouca coisa é necessária, até mesmo uma só” (Lc10:41). Toda essa lufa-lufa dos nossos dias é tão-só fruto da atividade cerebral, que naturalmente só pode encontrar valor em coisas materiais, visíveis e palpáveis, inteiramente consentâneas com o conceito terreno de espaço e tempo. O que se acha além do espaço-tempo terrenal, o cérebro humano, pela sua própria constituição, não é capaz de assimilar nem de avaliar, enquanto que o espírito, único capacitado para isso, encontra-se por demais fraco e sonolento para assumir a tarefa.

E assim o ser humano passa pela vida terrena, celeremente, sem se preocupar em saber quem ele é, de onde vem e qual a finalidade da sua existência. Pior: passa através da vida sem mesmo procurar saber como deve proceder para poder continuar existindo na Criação. Nada disso tem importância para ele, o espírito adormecido no esquife intelectual. Se o espírito humano atuasse como deveria, suas vivências seriam incomensuravelmente mais ricas, transformar-se-iam em reconhecimentos duradouros, indeléveis, e com isso em evolução.

Mas vamos voltar para o que aprendemos na escola. A gravitação descoberta por Newton, dissecada posteriormente pela física relativística e constituindo até agora o último entrave à elaboração de uma “teoria do campo unificado”, é igualmente o efeito terrenamente visível de uma segunda lei básica da Criação: a Lei da Gravidade.

O enunciado da lei da gravitação universal, de Newton, estabelece que um corpo sempre atrai outro com uma força proporcional ao produto de suas massas e ao inverso do quadrado da distância que os separa. (4) Essa conta ainda precisa ser multiplicada por um fator invariável: a constante gravitacional “G”. Aqui, na materialidade, podemos até determinar experimentalmente o valor dessa constante gravitacional, medindo a força de atração entre dois corpos de massas conhecidas.

A absoluta perfeição com que essas interações se evidenciam no Universo material causa assombro aos cientistas que se ocupam com o estudo delas. Um conceituado físico descobriu que se a força que mantém unidos prótons e nêutrons fosse apenas alguns pontos percentuais mais intensa do que é, o Universo não teria hidrogênio, e a água e as estrelas não poderiam existir. A vida seria impossível nessas condições. Um outro pesquisador verificou que se a constante gravitacional de Newton tivesse um valor minimamente diferente, só existiriam estrelas dos tipos gigantes azuis e anãs brancas, o que igualmente tornaria impossível o surgimento da vida em qualquer parte do Universo.

A mecânica quântica, que estuda a interação entre partículas subatômicas, destrinchou as forças conhecidas na natureza em quatro tipos: gravitacional, eletromagnética, nuclear forte e nuclear fraca, mas defende (com muita propriedade) que todas elas são provavelmente facetas distintas de uma força única, a qual ainda não foi possível descrever numa teoria unificada. Dessas quatro interações conhecidas, somente a gravitação ainda não se mostrou “quantificável” pela mecânica quântica, o que naturalmente não invalida a teoria da existência de um campo único.

Essas quatro manifestações de força descritas pela mecânica quântica, terrenamente perceptíveis, são, mais uma vez, expressões da muito maior e absolutamente abrangente Lei da Gravidade, da qual a gravitação descoberta por Newton também constitui apenas um efeito mínimo. Como todas as outras, a Lei da Gravidade perpassa toda a Criação, e não apenas os corpos siderais materiais, nos quais se reconhece uma pequena parcela de seus efeitos.

Em sentido amplo, essa lei faz com que cada espírito humano ascenda ou desça às regiões a que pertence, segundo sua constituição anímica. Ambos, ascensão e queda, são efeitos justos e indesviáveis dessa Lei da Gravidade Espiritual que, tal como as outras leis universais, mantém em funcionamento perfeito a imensa engrenagem da Criação, ajustada até as minúcias desde o início dos tempos. Almas pesadas e sujas, carregadas de vícios e pendores, afundam após a morte terrena para regiões igualmente densas e lúgubres, consentâneas com a constituição delas. Já almas leves e limpas, purificadas, preenchidas de verdadeiro amor ao próximo e alegria de viver, ascendem automaticamente para regiões mais luminosas.

Daí a advertência de Jesus: “Ficai de sobreaviso para que os vossos corações não fiquem pesados pela embriaguez, pelas orgias e pelas preocupações da vida,…” (Lc21:34). Daí também o incitamento explicitado nesse trecho da Epístola aos Hebreus: “Desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos com perseverança a carreira que nos está proposta” (Hb12:1). Um peso acarretado não somente por ações, mas também por pensamentos e até por palavras: “A cada um será peso a sua palavra” (Jr23:36).

A atuação dessa lei também é retratada na história do homem rico e avarento que depois da morte vai para um lugar de tormentos, nas profundezas. Lá ele vê Abraão e Lázaro “ao longe”, e pede ao mendigo Lázaro, que conhecera em vida, que o ajude, o qual se encontra agora num lugar de paz, numa região elevada. Mas Abraão, que está ao lado de Lázaro, lhe diz: “Está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que querem passar daqui para vós outros não podem, nem os de lá passar para nós” (Lc16:26). Ou seja, a Lei da Gravidade cuida de manter a separação entre o que é trevoso e o que é luminoso.

Com isso, já nos tornamos aptos a responder a pergunta: “Quem é que sabe se o espírito dos humanos sobe para o alto e se o espírito dos jumentos desce para baixo, para a Terra?” (Ecl:3:21). A alma do animal sempre ascenderá automaticamente, por efeito dessa lei, à região a que pertence por sua constituição. Como a alma do animal não pode se tornar pesada, já que este nunca atua de modo contrário às leis da natureza, sua alma enteal sempre ascenderá até o respectivo ponto de origem, situado acima da materialidade. Poderá até conservar sua forma, caso tenha se fortalecido pelo sentimento de amor. Já em relação ao ser humano… depende. Depende de como ele atuou aqui na Terra com sua vontade intuitiva, seus pensamentos e suas ações. Se atuou de modo certo, sua alma, incandescida pelo espírito, também ascenderá a regiões luminosas, consoantes à sua leveza. Mas, se atuou erradamente, sua alma tornada com isso escura e pesada igualmente afundará, por efeito dessa mesma Lei da Gravidade, a regiões tenebrosas e densas, de mesma constituição.

O filósofo grego Platão (427 – 347 a.C.) já dizia que uma pessoa muito apegada ao mundo terreno ficava pesada após a morte, e não poderia mais ascender ao “mundo das idéias”, tendo de retornar à Terra para uma nova vida na matéria. O Padre e Doutor da Igreja, Clemente de Alexandria (150 – 213) – Titus Flavius Clemens – dizia que esse mundo das idéias não era outro senão o reino de Deus, e que Platão havia aprendido de Moisés que se tratava de um lugar que continha todas as coisas universalmente.

A matéria age como uma âncora para espíritos de níveis distintos, de modo que todos podem se encontrar e se comunicar aqui. Em nenhum outro lugar da Criação isso é possível. É como uma imagem de balões multicoloridos, presos a fios de comprimentos diferentes e amarrados num mesmo lugar. Os balões mais altos e de cores mais vivas (espíritos mais evoluídos) estão fixados no mesmo plano dos balões mais baixos e mais esmaecidos (espíritos menos evoluídos), possibilitando um intercâmbio entre eles. Algo que, mesmo aqui na matéria, não é muito comum. Pela Lei de Atração da Igual Espécie, que abordarei em seguida, os balões mais altos procuram ficar naturalmente próximos, enquanto que os mais baixos também se ajuntam automaticamente. Um balão mais alto pode perceber a limitação do mais baixo; pode, inclusive, movido de amor, inclinar-se para ele e indicar o caminho para cima, mas não está apto a levá-lo consigo para as alturas onde paira. Essa possibilidade depende inteiramente do balão mais baixo. Ele é que tem de adquirir mais gás e conseguir mais fio, se quiser ascender espiritualmente. E quanto mais alto subir, maior fulgor também adquirirá sua cor. Depois da morte terrena, que equivale ao rompimento do fio, cada balão subirá por efeito da Lei da Gravidade até onde lhe permite sua quantidade de gás, e lá, naturalmente, só encontrará outros balões semelhantes, de mesmo tamanho e forma.

Estreitamente ligada à Lei da Gravidade encontra-se uma terceira lei básica da Criação: a Lei de Atração da Igual Espécie. Como não podia deixar de ser, também esta perflui integralmente o espírito humano, esteja ele ainda aqui na Terra ou não. Essa lei estabelece que uma determinada espécie sempre atrai outra igual. E isso em todos os campos da vida humana.

Na Terra, esse fato é nitidamente reconhecível nas afinidades entre as pessoas, quer se trate de pendores ou qualidades. Alcoolistas, fumantes, trapaceiros, jogadores e viciados em sexo sempre encontram pessoas de igual espécie para tratar de assuntos afins. Do mesmo modo, uma pessoa de índole nobre também reconhece imediatamente outra semelhante, de mesma espécie, com a qual pode tratar de temas elevados. Cabe lembrar aqui essa constatação do apóstolo Paulo: “Os que se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne; mas os que inclinam para o espírito, das coisas do espírito” (Rm8:5). É também efeito dessa lei a constatação de que “o justo encontra sua alegria na prática da justiça” (Pv21:15). A igual espécie aqui é o legítimo sentimento de justiça, que os justos trazem naturalmente em si.

Os ditados populares: “dize-me com quem andas que te direi quem és”, “cada qual com seu igual”, “cada ovelha com sua parelha” e ainda outros semelhantes, originaram-se da observação inconsciente dos efeitos dessa Lei de Atração da Igual Espécie na vida cotidiana. Reconhecemos um eco dessa lei no livro de Levítico, onde o Senhor ordena: “Não acasalarás animais de espécie diferente. Não semearás em teu campo duas espécies de semente, nem usarás roupa tecida com duas espécies de fio” (Lv19:19). Já o autor do livro Eclesiástico percebeu que “pássaros da mesma espécie aninham-se juntos” (Eclo27:9). Sim, e por isso mesmo sempre se poderá delinear características semelhantes entre dois amigos que não se largam: “Assim como o rosto se reflete na água, assim o coração de um se reflete no do outro” (Pv27:19).

Na mencionada história do homem rico, Lázaro e Abraão estão juntos num plano elevado porque ambos são de igual espécie espiritual. É o mesmo conceito que transparece no final do livro apócrifo 4Esdras, quando o protagonista, Esdras, é levado “ao lugar onde estão os que se parecem com ele” (4Esd14:49,50).

A Lei de Atração da Igual Espécie, atuando em conjunto com a Lei da Reciprocidade, é de extrema importância também nas encarnações. Ao contrário do que se imagina comumente, não existem acasos numa encarnação, assim como não existem acasos em fenômeno algum da natureza. Uma alma não pode encarnar-se num determinado lugar, numa certa condição social e numa família específica se antes não tiverem sido satisfeitas as disposições para isso, determinadas pelas leis primordiais. Uma encarnação é o resultado final de múltiplas contingências, determinadas por fios do destino que se sobrepõem e se entrelaçam, urdidos em vidas terrenas anteriores, assim como pela concomitante atração da alma pela sua espécie igual.

A alma prestes a encarnar é atraída para aquele local, para aquela família cujas pessoas têm afinidades anímicas com ela. Força especial de atração exercem justamente as fraquezas, porque são estas que precisam ser dirimidas numa vida terrena. Desse modo, cada vida aqui na Terra é uma oportunidade sem igual para se corrigir antigos erros, sobrepujar fraquezas e evoluir espiritualmente. A vida terrena é uma autêntica dádiva dos céus.

Cada vida terrena é, sim, uma dádiva do Amor do onipotente Criador, presente em toda Sua obra gigantesca, e assim também neste nosso plano material. Cada esporo, cada óvulo ou ovo fecundado – os zigotos de seres humanos e animais – encerram em si a promessa da continuação do grandioso espetáculo da vida, fornecendo continuamente novos atores a este palco terreno, onde todos entram em cena para desempenhar os mais variados papéis, em novos atos descortinados por efeitos de leis universais, aprendendo com estas na grande trama do desenvolvimento progressivo. Uma eterna renovação periódica de vida, num permanente dar e receber, direcionada exclusivamente para o aperfeiçoamento da própria vida.

Além do papel preponderante nas encarnações, a Lei de Atração da Igual Espécie também forma, como mencionado, o respectivo âmbito de matéria fina de uma pessoa, segundo a espécie de seus pensamentos e intuições. Esse ambiente não é percebido pelos nossos olhos corpóreos, que são constituídos de uma matéria mais grosseira, contudo é perfeitamente sentido por quem está nas proximidades da pessoa em questão. Provavelmente muitos já devem ter notado como uma pessoa boa, interiormente pura, refresca imediatamente o ambiente em que adentra, tão-somente com sua presença. São pessoas que despertam uma misteriosa simpatia, sem causa visível, como a moça Ester, que “conquistava a benevolência de todos os que a viam” (Est2:15).

Por outro lado, certamente não haverá quem já não tenha percebido a situação oposta – muito mais comum – em que uma pessoa, também só com a sua presença, talha o ar à sua volta, oprimindo desagradavelmente os que lhe estão próximos. Em ambos os casos foi a respectiva pessoa que formou um âmbito luminoso ou escuro ao seu redor, pelo efeito da Lei de Atração da Igual Espécie, o qual é então percebido pelas demais pessoas. Naturalmente, ambas receberão as conseqüências de seu modo de ser, boas ou más, através da atuação da já mencionada Lei da Reciprocidade.

Vemos que tal como as leis humanas, as leis da Criação igualmente acarretam conseqüências danosas para quem as desobedece. De fato, a definição geral é, em princípio, a mesma: lei é uma diretriz de conduta que, se não for cumprida, acarreta penalidades ao faltoso. Essas penalidades devem ser proporcionais ao alcance do prejuízo causado pela falta e, de tal forma, que para o indivíduo submetido a uma lei pareça-lhe muito mais sensato obedecê-la do que descumpri-la. À primeira vista, essa definição pode ser considerada válida para os dois tipos de leis existentes: as leis terrenas, instituídas pela vontade humana, e as leis da Criação ou universais, instituídas pela Vontade do Criador. As aparentes semelhanças entre ambas, porém, terminam aqui.

As leis humanas regem a vida em sociedade de uma pessoa enquanto ela está aqui na Terra. As leis da Criação, por sua vez, condicionam a própria existência do ser humano, moldando todo seu destino, esteja ele ainda aqui na Terra ou em qualquer outro plano da Criação.

As leis humanas são intrinsecamente imperfeitas e devido a isso mutáveis, tanto no tempo como no espaço. Uma lei promulgada há um mês pode já não estar em vigor hoje, e a legislação de um país não se aplica a outro. Os seres humanos têm o poder de alterar à bel-prazer suas leis, de modo arbitrário, segundo as necessidades do momento. O Criador não. Suas leis da Criação são absolutamente perfeitas, e justamente por isso não estão sujeitas a qualquer alteração. Jamais poderão ser ampliadas, reduzidas ou revogadas. Muito menos aperfeiçoadas. Existem desde o início dos tempos e permanecerão existindo por toda a eternidade, imutáveis, intangíveis e incorruptíveis: “As obras das Suas mãos são verdadeiras e justas, todos os Seus preceitos são firmes, fixados para todo o sempre, feitos de retidão e de Verdade” (Sl111:7). Daí também o sentido das sentenças: “Nem um i ou um til se omitirá da Lei, sem que tudo seja cumprido” (Mt5:18); “É mais fácil passar o céu e a Terra, do que cair um til sequer da Lei” (Lc16:17). Essas são indicações claras de que por fim tudo tem de se cumprir dentro do conjunto das leis da Criação, na sua mais rigorosa observância, e de que elas não admitem o menor desvio ou alteração em sua inflexibilidade absoluta.

Como é absurdo, em vista disso, o preceito de que “os fins justificam os meios”. Como é verdadeiramente maquiavélica essa frase de autoria do filósofo Maquiavel (1469 – 1527), pois os fins nunca justificam os meios! Nem os meios nem os maus!… Só quem já perdeu os mais comezinhos sentimentos de justiça pode abraçar um tal lema deturpado. Deturpado e tolo ao extremo, já combatido severamente pelo apóstolo Paulo: “E então, por que não faríamos o mal para que daí resulte o bem, como alguns pretendem caluniosamente que nós digamos? Estes sim, merecem a condenação!” (Rm3:8).

Ao contrário das leis humanas, as leis que sustentam a Criação são, como vimos, extremamente simples. A própria simplicidade. Podem ser compreendidas perfeitamente por qualquer um, independentemente do seu grau de instrução. Nem poderia ser diferente, já que a elas estão submetidas todas as criaturas, e assim também o próprio espírito humano, não importando se na Terra é um analfabeto ou um PhD.

As leis humanas são falhas por natureza, visto serem produtos exclusivos do intelecto limitado. Estão repletas de brechas que permitem descumpri-las, sem acarretar ao infrator nenhuma sanção. Estão sujeitas a injunções políticas e interpretações dúbias, contribuindo para a especialização crescente de consultores que ensinam a burlá-las legalmente. Já com relação às leis da Criação nunca existiu, nem jamais existirá, um único caso em que uma criatura humana tenha descumprido alguma delas sem ter ficado imediatamente sujeita às conseqüências desse descumprimento. Em nenhuma hipótese sua culpa poderá ser “prescrita” por decurso de prazo nem sua pena comutada.

Por serem poucas, extremamente simples, absolutamente lógicas e tão incisivas para a existência do ser humano, não há nenhuma desculpa para seu descumprimento sob alegação de ignorância. O não cumprimento dessas leis por alegado desconhecimento demonstra que o infrator – poderíamos dizer também pecador – não se interessou por elas e nem fez o mínimo esforço para assimilá-las e pô-las em prática: “Não são, com efeito, os que escutam a Lei que são justificados diante de Deus; justificados serão aqueles que a põem em prática” (Rm2:13). Quando se diz que “é Deus quem justifica” (Rm8:33), então isso se dá pela atuação da Sua Lei da Reciprocidade, que Ele inseriu na obra da Criação.

Quem não põe em prática, em toda sua vida, o conjunto das leis de Deus, mostra que não se movimentou para tanto, o que já constitui uma transgressão direta à Lei do Movimento. O desconhecimento do funcionamento das leis naturais embota o espírito humano, enrijece-o, embaça-lhe a vista e destrói paulatinamente sua capacidade de discernimento.

Pôr em prática as leis da Criação, isto é, cumpri-las, equivale a ajustar-se voluntariamente à Vontade do Criador, que as instituiu. E essa Vontade estabeleceu que em seus caminhos de desenvolvimento na matéria, assim como em outras partes da Criação, o ser humano deverá encontrar tão-somente alegria, felicidade e paz bem-aventurada: “Guarda Suas leis e Seus Mandamentos que hoje te dou para tua felicidade” (Dt4:40). Descumprir essas leis significa agir contra a Vontade do Criador, o que faz o ser humano angariar então para si exatamente aquilo de que elas procuram preservá-lo: dor, sofrimento, angústia, desespero e pavor. Por isso, grande sabedoria há em cumprir os Mandamentos do Senhor: “O sábio de coração aceita os Mandamentos” (Pv10:8).

Quanto mais elevado for um ser humano, quanto mais sábio se tornar em seus caminhos de desenvolvimento espiritual, tanto mais incondicionalmente se submeterá às leis da Criação instituídas por Deus, já que assim lhe fica assegurada de antemão a felicidade. É esta a maior sabedoria que um ser humano pode almejar. É a suprema arte de viver.

  1. A palavra apocalipse deriva do grego apokalypsis: re-velação, significando literalmente “retirar o véu”. Na verdade, nem tudo o que é revelado nessa revelação é relevante, mas só o que se revela revelador. Esse tema é tratado no segundo volume deste livro. Retornar
  2. Exceção notável a essa seqüência de reinos fundamentados na violência foi o Império Inca. Ao leitor que desejar conhecer mais sobre os Incas, o último povo na Terra ainda ligado à Luz, indica-se a obra A Verdade Sobre os Incas, de Roselis von Sass. Retornar
  3. Ver, a respeito, a dissertação “E Mil Anos São Como Um Dia”, no segundo volume da obra Na Luz da Verdade, a Mensagem do Graal de Abdruschin. Retornar
  4. Uma nota curiosa: Newton era um cristão devoto e achava que sua melhor obra era uma interpretação do Livro bíblico de Daniel. Deixou inúmeros comentários e referências a esse Livro, todos solenemente ignorados pela posteridade. Retornar