14. E vinte séculos se passaram

Ao atingirmos o século 21, era de se esperar uma situação completamente diversa da forma confusa e vazia de objetivos mais elevados, como se desenrola a vida na maioria dos países. A bestialidade parece ter sido incorporada ao modo de viver, enquanto que a nobreza humana vai desaparecendo em todos os setores. Conflitos, violência, drogas, prostituição infantil, desentendimentos, destruição ambiental. Prendendo-se tão somente aos aspectos materiais, o ser humano se apresenta como uma espécie animal que deveria estar plenamente humanizada através da utilização do espírito. Contudo, olhando sempre para o chão, perdeu a visão mais elevada da vida.

O que se passa com a civilização humana? Será que ela vai entrar em colapso? Por que? A história da civilização da era cristã é quase uma história de guerras permanentes que fizeram do século 20, o mais sangrento que o mundo viveu. Muito sangue e muitos sofrimentos foram gerados. Com tanta hipocrisia e com tantos ressentimentos, se reduzem as esperanças de que surjam a paz e a real felicidade.

O ser humano se desligou do Criador, atrofiando-se espiritualmente, e, agindo mecanicamente, foi capaz de cometer as maiores atrocidades para acumular riqueza, poder e vaidades. E, de tal comportamento, não escaparam nem as religiões cuja finalidade principal seria "religar" o homem a Deus, mas em busca de seus interesses não deram a devida consideração às leis espirituais reveladas por Cristo.

Nas conquistas ultramarinas a pilhagem do ouro, fosse dos Incas ou de outros povos, demonstrou o embrutecimento humano. Segundo Roselis Von Sass, em A Verdade sobre os Incas, Atahualpa, o rei dos Incas, já tinha ouvido sobre seres humanos que se transformam em demônios devido à cobiça pelo ouro, mas quando lhe foi exibido um crucifixo, sem compreender ficou profundamente irado e triste com a forma brutal daquela morte. Ouro Atahualpa podia arrumar quanto quisessem, mas não podia aceitar que o Reino do Céu estivesse aberto aos seres humanos porque Jesus fora morto cruelmente na cruz, e disso não fizera segredo perante as autoridades religiosas de Espanha, tendo sido por isso condenado a morrer numa fogueira, por "blasfêmia", pois foi considerado como perigoso empecilho para a conversão dos Incas, mas antes que fosse lançado à fogueira, foi morto pelo um punhal assassino de um conquistador embriagado.

O acúmulo de grandes fortunas e o aumento do poder terreno passou a ser tratado como prioridade. Assim, gradativamente, o entorpecimento espiritual da humanidade foi conduzindo tudo, simultaneamente, para um limite crítico, e com isso tudo oscila.

Trata-se de um problema que atinge a todo o planeta. Em todos os países ocorrem crises e ansiedades que se tornam mais perceptíveis nos locais onde estão ocorrendo guerras, catástrofes naturais e pesadas crises econômicas.

Nesse ritmo vertiginoso, não se percebe com clareza para onde tende a civilização, pois muitas coisas desagradáveis acontecem simultaneamente sem que a população tenha onde se socorrer, criando um cenário de tragédia e dor.

Mas, afora os problemas materiais, existem os de ordem psíquica, agravados pelos constantes estímulos para que os medos ocultos e inconscientes, sejam lançados à tona, provocando o aumento da sensação de mal estar e insegurança.

Não há estímulos para o que é bom e o que é nobre. É como se estivéssemos num pântano, a cada momento se afundam mais no lodo e na sujeira.

Assim, a economia também entra à deriva, as margens se tornam apertadas e as grandes corporações passam a anunciar gigantescas demissões de empregados, sem que se saiba como solucionar a questão, aumentando a insegurança e os temores.

Os desentendimentos se entrelaçam e se multiplicam, cansando e sugando a energia vital das pessoas, predominando os descontentamentos e a falta de confiança, estimulando as animosidades entre os seres humanos que se tornam incapazes de olhar as falhas de seus semelhantes com compreensão. Cada qual acha que sua é a razão, e errada, a outra parte.

Trata-se de um fato de transcendental importância na vida humana porque está presente em todos os níveis, desde o relacionamento familiar, até ao relacionamento comercial ou governamental.

Em todos os setores irrompem conflitos e incompreensões. Países ricos impõem condições draconianas aos mais fracos, que em sua habitual indisciplina se viram forçados a interromper a usual apelação de cobrir os déficits com a depreciação da moeda, isto é, a inflação lançada sobre toda a população, a desvalorização cambial, enfim, o empobrecimento generalizado da população.

A raiva e a frustração com a economia estão em alta em todo o Planeta. Esta é uma conclusão que faz parte das “Profecias do Pai Rico”, (Edit. Campus). Para os autores, Robert Kiyosaki & Sharon Lechter, tudo indica que o grande crash do mercado de ações se arma no horizonte, mas esse não é o problema. Todos os mercados financeiros sobem e descem. Os ciclos econômicos são parte da vida. Dizer que o mercado de ações cairá é como prever a chegada do inverno. A questão é quais serão as consequências do próximo crash e a intensidade da queda…

Para atender os compromissos externos, os países periféricos se vêem obrigados a reter o crescimento econômico, através de políticas tributarias e monetárias, mas as populações de baixa renda e sem preparo, não param de crescer. A resultante é a explosão das favelas, que surgem da noite para o dia em torno das principais cidades, tornando-se evidente a queda da qualidade humana e de vida.

Os números da marginalidade e de crimes não param de crescer. O policial passa a ser visto como o inimigo quanto maior for a população vivendo na informalidade. Com o crescimento da população excluída e não integrada, a presença do policial passa a ser tida como um tropeço, e não como uma presença bem vinda de segurança e proteção. O policial passa a ser visto como representante das camadas da população que possuem algum patrimônio e da classe rica. Isso poderá se tornar altamente explosivo e corroer de vez a governabilidade, enfraquecendo o Estado, pondo em risco a sua continuidade.

O crescimento da miséria e da ignorância embrutece o ser humano, fazendo-o violento. Contudo, o fato real a ser considerado, é que os seres humanos se deixaram embrutecer pelo seu afastamento das leis da Criação, produzindo um mundo áspero e sem coração, onde a violência tem um campo fértil para proliferar descontroladamente, acelerando a decadência. Assim, construiu-se um mundo onde a esperança de um melhor futuro está desaparecendo, gerando todo tipo de inconformismos e depressões.

Mas nos países ricos também ocorrem divergências e conflitos. O governo, muitas vezes fica submetido aos interesses mais fortes que se ocultam nos meandros do poder público, em detrimento população. São tantos os interesses e manipulações que a visão do homem comum se perde na obscuridade de leis e regulamentos que não raro colidem em contradições e conflitos que vão finalizar diante de habilidosas interpretações judiciais.

Os países pobres também são submetidos à dominação dos artificialismos de capciosas leis e regulamentos. Mesmo com déficits em suas contas externas, são obrigados, pelos acordos, a fazer aberturas irrestritas, enquanto o protecionismo dos países desenvolvidos também está amparado por acordos de comércio e outras parafernálias legais, que asseguram o direito do uso da força, sem arranhar-lhes a imagem de liberais democratas.

O interesse egoístico prevalecente na atividade econômica voltada para o lucro converteu-se em instrumento da reorganização social, contudo o interesse egoístico reorganizou a sociedade humana de tal forma que ela tende a se desumanizar. Isso não quer dizer que na sociedade aristocrática o interesse egoístico fosse menor, apenas ficava camuflado sob a aparência de um humanismo falso e dogmático, paralisante do espírito.

A partir do momento que se iniciou a prática cruel da escravização, tornou-se postulado humano que um povo, para enriquecer, teria que fazer outros pobres e infelizes, assim a miséria expandiu-se pelo planeta, sem que haja entendimento entre os seres humanos.

Uma nova sintonização se torna indispensável. Sonhar com um mundo melhor em constante melhora. Desejar fazer do mundo um lugar melhor, com mais alegria e beleza, apropriado para uma existência humana condigna. Quando o ser humano reconhecer que é uma espécie diferenciada, que além do instinto e do cérebro, também é dotado de alma e intuição para agir com nobreza, colocando o raciocínio a serviço de alvos mais elevados para construir uma civilização verdadeiramente humana, teremos alcançado um estágio mais avançado, de real evolução e enobrecimento da vida. Caso contrário o ser humano se embrutecerá de forma irreversível. Viveremos num inferno autodestrutivo!

“Nem empregador nem empregados têm culpa disso, nem o capital nem a sua falta, nem a igreja nem o Estado, nem as diferentes nações, mas tão-somente a sintonização errada das pessoas, individualmente, fez com que tudo chegasse a tanto!”

(Mensagem do Graal, de Abdruschin, dissertação “Pai Perdoai-lhes, Pois Não Sabem o Que Fazem!”)

Religião e poder econômico

Se olharmos para a perspectiva histórica de dois mil anos de cristianismo, será que encontraremos dados positivos para uma pesquisa de qualidade humana e de vida, num sistema justo de distribuição de riqueza em oposição a miséria?

Possivelmente encontraremos maior solidariedade humana nos séculos passados, mesmo essa porém, maculada por perseguições e a promiscuidade da escravidão de prisioneiros de guerras, ou de raças consideradas inferiores e pagãs.

Os servos camponeses viviam acorrentados às terras. Com o suor do seu trabalho, sem que pudessem agir em defesa própria, sustentavam o luxo e a luxúria dos salões, onde os detentores de posse do solo dissipavam riquezas com ócio e prazeres.

Não se pode menosprezar a poderosa movimentação das Cruzadas. Quando já havia decorridos mais de mil anos do assassinato de Cristo, Roma lançou extemporaneamente a guerra de libertação da Terra Santa.

A humanidade precisava urgentemente revitalizar-se com a Luz da Verdade mas esta fora sufocada pelos conceitos humanos. Camponeses, nobres, sacerdotes e soldados inflamaram-se com a idéia das Cruzadas, que poderia se reverter na conquista de terras e riquezas. Muita energia e muitas vidas foram mobilizadas, mas evolução espiritual não foi alcançada. Ao final a Igreja conseguira aumentar o seu poderio terreno.

A história assinala que durante longos períodos o poder religioso e o poder público se mantiveram emparelhados. A massa de oprimidos aprendia que a riqueza era má e perigosa, e que o reino dos céus pertencia preferencialmente aos pobres e sofredores, sendo mais difícil de ser alcançados pelos ricos. Mas a história é dinâmica e se desenvolve em sequência lógica, a lógica simples de que cada um colhe o que semeia. Com o passar do tempo o poder econômico foi ganhando corpo. A história não pára, e muitos fatos foram produzindo as necessárias mudanças e consequências negativas para que um dia, os seres humanos espiritualmente ativos, se tornassem conscientes da realidade através do sofrimento.

Atualmente o poder público se acha atado ao poder econômico seja pela dívida pública, seja pela gestão dos fluxos financeiros e de mercadorias, que escapam ao controle governamental, onde jamais deveriam ter permanecido porque o poder econômico, associado ao poder público é altamente corrompedor. O poder público é para zelar pelo patrimônio ambiental, pelo bom relacionamento entre os povos inclusive no equilíbrio comercial, e pela possibilidade de uma existência humana condigna, segundo as leis da Criação. Agora são as empresas globalizadas que decidem o que produzir e onde, bem como para onde serão direcionados os fluxos financeiros. O poder público pouco pode fazer. Sujeita-se ou arrebenta.

Mas o poder econômico não assumiu a sua responsabilidade social, acumulando poder e riqueza sem atentar para o crescimento da miséria humana, enquanto as elites permaneciam discutindo teorias antagônicas em busca de poder. Ademais, as grandes empresas privadas contam com a assessoria dos melhores cérebros, enquanto no poder público ficam principalmente os que não têm para onde ir e os oportunistas, porque os homens de caráter se afastam das manobras maquiavélicas para conquista, ampliação e conservação do poder.

A humanidade indolente sofre agora as consequências dessa situação decorrente da desordem financeira, sem perspectivas de um crescimento econômico sustentável que combate a miséria humana que se esparrama pelo mundo.

Religião, Economia e Poder, sempre estiveram intimamente ligados, interagindo simultaneamente uns sobre os outros, sempre na busca de melhor adequação que os satisfizesse mutuamente. Contudo, somente uma elevadíssima doutrina religiosa, verdadeira e objetiva, poderá propiciar um sistema econômico, ética e moralmente elevado, apto portanto, a propiciar a real evolução da Humanidade.

A riqueza criada pelos seres humanos, embora tenha enorme poder terreno, é virtual e não tem contribuído para o aumento da paz e da felicidade. A verdadeira riqueza não tem preço, são aquelas condições que propiciam a existência da vida no planeta, porém pouco respeitadas em função da obtenção de lucros imediatistas. O ano 2000, tão simbólico nas expectativas humanas, seria o marco de um período de iluminação e sabedoria através do reconhecimento e utilização das leis da Criação, mas, ao contrário disso, revelou-se uma grande desilusão, predominando as trevas da ignorância e da ridícula mania de grandeza do ser humano. É como se a sociedade humana se fosse despedaçando sem que ninguém se ocupe seriamente com o problema, investigando as causas, buscando soluções duradouras.

Enquanto isso, o viver na Terra se vai tornando cada vez mais difícil. No século XX sofremos duas guerras mundiais. O trágico holocausto durante a Segunda Guerra parece atingir toda a humanidade de forma infindável e cruel. A situação se agrava em todos os sentidos. A explosão populacional oferece um efeito duplamente negativo: o aumento da população pressiona os delicados mecanismos do equilíbrio ambiental provocando a destruição das espécies vegetais e as criaturas do mundo animal, terrestres e aquáticos. As cidades se deterioram a cada dia. A poluição ameaça reduzir as reservas de águas potáveis. Mas a grande ameaça decorre do despreparo dessa superpopulação que não encontrando meios de sobrevivência se embrutece, resvalando para a marginalidade. A criminalidade assola o mundo estendendo seus tentáculos em todas as direções. O sofrimento e as tragédias se avolumam em todos os países.

Está gravado na Grande Pirâmide, através da medida especial que indica datas no percurso dos corredores, que, nas proximidades do ano 2000, as passagens se estreitam, tornando-se apertadas, escuras, não se podendo caminhar em pé, representando os seres humanos curvando-se ante à pressão do seu falhar, caminhando a esmo para um beco sem saída, onde o sarcófago vazio os espera.

A autora apresenta os dados relativos aos cálculos das datas no interior da pirâmide, indicando que a última data que se pode inferir situa-se no ano 2001, no mês de setembro. Há sobre isso muita incerteza entre os pesquisadores, mas o fato a ser destacado é que a data não assinala o fim de tudo. Muito provavelmente a demarcação pode significar o fim do tempo em que poderiam ser modificadas as consequências mais graves decorrentes do procedimento dos seres humanos. Então, a partir daí, a Reciprocidade passa a atuar severamente, trazendo os pesados retornos produzidos pelas ações humanas. Não se trata do fim de tudo, mas do tempo em que a coheita má oferece inevitavelmente os amargos frutos semeados.

Mesmo tão evidente advertência gravada na pedra tem sido sistematicamente deturpada por falsas interpretações que desviam a atenção daquilo que é essencial, para que os seres humanos permaneçam distanciados da Verdade.

Assim se passaram 2000 anos sem que a Luz tivesse penetrado no coração dos seres humanos. Se grandes feitos foram realizados, muitos outros teriam surgido em paz e harmonia. Conforme escreveu Abdruschin, na Mensagem do Graal – Volume 2, páginas 379-380:

“A sagrada missão do Filho de Deus foi a sua Palavra, foi trazer a Verdade das alturas luminosas, a fim de assim mostrar à humanidade seu caminho para a Luz, que até então esteve vedado, porque seu estado espiritual, em seu desenvolvimento, não possibilitava seguir anteriormente aquele caminho!

Os sofrimentos infligidos pela humanidade a esse grande portador da Verdade ficam completamente à parte!

Mas aquilo que nos discípulos era evidente e natural, resultou na religião posterior em muitos e grandes erros. A objetividade da Mensagem de Deus ficou longe, em segundo plano, diante do culto pessoal ao portador da Verdade, o que Cristo jamais quis.

Por tal motivo, patenteiam-se as falhas do cristianismo, que levam o perigo dum descalabro, se os erros não forem corajosamente confessados com franqueza.

Trazer essa até aí desconhecida Verdade, unicamente, tornou necessária a vinda de Cristo à Terra. Nada mais. Pois sem reconhecer corretamente a vontade de Deus na Criação, ser humano algum consegue encontrar o caminho para a escalada ao reino luminoso, muito menos ainda segui-lo.”

Bilhões de almas sobrecarregadas com pesado carma transformaram a vida num vale de lágrimas. Agora, no remate final, as ações de retorno trazem principalmente dor e desespero através da mais severa e sagrada justiça divina.

No mundo da Luz tudo é alegria, cores, sons e beleza, em maravilhosa harmonia. Mas na Terra, que deveria ser uma cópia erigida pelos seres humanos, formou-se o oposto. A escuridão da mentira. O inconsciente temor das consequências do errado viver. A tristeza da falta de autenticidade e convicção. Tudo é falso e ilusório. Os seres humanos perderam a sua individualidade, agindo bovinamente como manada. É reduzido o número daqueles que levantam a cabeça desenvolvendo a arrojada ousadia de buscar pela Luz da Verdade.

Antes atuavam as algemas dogmáticas da coerção e do medo dos castigos. Agora os seres humanos se deixam algemar pelo condicionamento psico-social comandado pela mídia a serviço de interesses menores do que a real evolução.

A doutrina de Cristo foi doada para se constituir na filosofia de vida tendente à evolução espiritual do ser humano. Mas foi usada para instituir uma organização terrena e para acobertamento de extremismos religiosos e conflitos doutrinários na luta pelo poder e acumulo de riqueza.

Em meio a tantos erros erigidos como filosofia de vida, o ser humano provocou o embrutecimento da vida tornando-se insensível, perdendo o caminho para o reconhecimento da Luz da Verdade que arrancando do caos, conduz para jubilosas atividades e efetiva evolução espiritual.